Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Currículo<br />
_____________________________________________________________________________________________________<br />
Permanente - Módulo IV - Direito Penal - 2008 João Gualberto Garcez Ramos<br />
A atuação mais freqüente e socialmente <strong>da</strong>nosa, porém, consiste em valer-se o<br />
interrogante de sua cultura e habili<strong>da</strong>de para sugestionar o acusado e levá-lo a cair em<br />
contradições para, enfim, confessar a prática de um ilícito.<br />
Há exemplos característicos de interrogatórios sugestivos no romance “O nome <strong>da</strong><br />
rosa”, de UMBERTO ECO, coman<strong>da</strong>dos pelo seu personagem, inquisidor BERNARDO<br />
GUIDONI, ou BERNARDO GUI, “como quiserdes chamá-lo”. 440<br />
Em seu libelo contra a tortura, PIETRO VERRI faz, outrossim, condenação à “insidiosa<br />
cavilação utiliza<strong>da</strong> no processo contra alguns infelizes”. 441<br />
O antigo processualista penal francês ANTOINE TOUSSAINT DESQUIRON DE SAINT-AGNAN<br />
descreve com precisão e condena com veemência o interrogatório sugestivo: “O<br />
Procurador Geral Servant abominou to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> um artifício que, naqueles tempos,<br />
gozava de grande reputação e que consistia em enre<strong>da</strong>r o acusado com perguntas<br />
insidiosas, até de falso fun<strong>da</strong>mento, para assim descobrir a ver<strong>da</strong>de; entendia ele que o<br />
juiz não deve de qualquer maneira apertar o acusado, a não ser quando a sua<br />
desatenção fosse prejudicial, a ele ou a terceiros. Por isso as perguntas insidiosas, as<br />
suposições falsas, em suma, qualquer mentira destina<strong>da</strong> a envolver o acusado, eram<br />
abomina<strong>da</strong>s por aquele bom magistrado. E estes princípios, dizia-nos ele, dirigem-se ao<br />
magistrado, ao ministro <strong>da</strong> lei, a quem chamaria o investigador <strong>da</strong> inocência, se<br />
procurássemos um nome para significar os seus deveres. Princípios indispensáveis em<br />
relação a um acusado, quase sempre de espírito e coração perturbados: em vez de<br />
insídias, é digno de socorro; ca<strong>da</strong> pergunta que não se refira diretamente ao crime, ca<strong>da</strong><br />
pergunta acidental, é funesta. O acusado, que se submete ao interrogatório de um juiz,<br />
está absolutamente convencido de que ca<strong>da</strong> pergunta pode ser capital; ca<strong>da</strong> interrogação<br />
parece, aos seus olhos, ameaçar-lhe a vi<strong>da</strong>: e pede, por isso, para lha repetirem,<br />
dispondo imaginárias defesas contra as palavras do magistrado. Numa tal disposição, se<br />
lhe é feita uma pergunta sem grande interesse, e se, realmente, ele fez aquilo que o juiz<br />
lhe pergunta, logo se perturba: negará, ou confessará? – De certo não me interrogou sem<br />
um fim... quem sabe que conseqüências ele irá tirar disto!... O que hei de dizer agora? – o<br />
que lhe inspira a fraqueza e o medo, a mentira: o acusado negará. O juiz, sereno,<br />
diritto di natura confessare un reo, gli spasimi lo faranno molto più facilmente: ma gli uomini piú <strong>da</strong>lla<br />
differenza de’ nomi si regolano che <strong>da</strong> quella delle cose”.<br />
440<br />
ECO, Humberto. O nome…, p. 245 e 420-442: “quinto dia, nona: onde se aplica a justiça e tem-se a<br />
embaraçosa impressão de que todos estejam errados”.<br />
441<br />
VERRI, Pietro. Observações…, p. 53.<br />
161