Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Parte 1 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Currículo<br />
_____________________________________________________________________________________________________<br />
Permanente - Módulo IV - Direito Penal - 2008 João Gualberto Garcez Ramos<br />
normativas com a distribuição <strong>da</strong> justiça se intensificaram após a fase do Novo Império,<br />
com a visão <strong>da</strong> justiça como serviço público. Anteriormente, a caracterização do Faraó<br />
como grande provedor dispensava esse tipo de preocupação: ele era a justiça.<br />
Já no período do Médio Império encontram-se documentos contendo conselhos aos<br />
julgadores, como a “Instrução do Faraó ao Vizir”, <strong>da</strong> XII Dinastia (entre 1.900 e 1.785<br />
a.C.), encontra<strong>da</strong> nos túmulos do Vizir Rekmara e sua família e que orienta os julgadores<br />
na direção <strong>da</strong> realização do princípio do Maât: “Atenta em que se espera o exercício <strong>da</strong><br />
Justiça na maneira de ser de um vizir. Atenta em o que é a lei justa, segundo o deus (Râ).<br />
Atenta no que se diz do escriba do vizir: ‘Escriba de Maât (a Justiça)’ é (o seu nome). A<br />
sala onde dás audiência, é a sala <strong>da</strong>s Duas Justiças, em que se julga: e quem distribui a<br />
Justiça perante os homens é o Vizir”. 24<br />
E prossegue, em outra tradução: “Quando vier um requerente do Alto ou do Baixo<br />
Egito (...) vê bem que tudo se faça conforme com a lei (...). Atende aquele que conheces<br />
como aquele que não conheces, o que vem pessoalmente junto de ti, como o que está<br />
longe <strong>da</strong> tua casa (...). Não despeças ninguém sem ter ouvido a sua palavra. Quando um<br />
requerente estiver junto de ti, queixando-se, não rejeites com uma palavra o que te disser,<br />
mas, se tiveres de negar-lhes o que pede, faz com que veja por que razão o negas”. 25<br />
Eis aí, portanto, o perfil dos julgadores egípcios: atuavam orientados fortemente por<br />
princípios que eram mais filosóficos que propriamente jurídicos. Esses princípios, ao<br />
menos formalmente, voltavam-se para a efetiva distribuição de justiça.<br />
Essa preocupação com a justiça eqüitativa fez, por exemplo, com que no Egito antigo<br />
o ordenamento jurídico-penal fosse menos rigoroso do que o de outras civilizações<br />
contemporâneas: nele não há notícia, por exemplo, de pena de morte. 26<br />
A justiça – já foi visto – era estatal e centraliza<strong>da</strong>. Os juízes faziam parte <strong>da</strong> classe<br />
sacerdotal e eram nomeados pelo Faraó e seus delegados na função de administrar<br />
justiça. 27 A escolha, porém, era eticamente orienta<strong>da</strong>: recaía, usualmente, sobre os mais<br />
respeitáveis e inteligentes homens. 28<br />
Quanto ao aspecto externo do processo, segundo JORGE ALBERTO ROMEIRO, era ele<br />
24<br />
MORET, Alexandre. Le Nil et la civilisation égyptienne, Paris, 1937, p. 331-332 apud GILISSEN,<br />
John. Introdução…, p. 56-57.<br />
25<br />
SERRA, António Truyol y. História…, p. 22.<br />
26<br />
GILISSEN, John. Introdução…, p. 55.<br />
27<br />
ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O processo…, p. 7-8.<br />
28<br />
ALMEIDA JÚNIOR, João Mendes de. O processo…, p. 8.<br />
20