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Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010

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Box 4.3. Políticas de suplementação alimentar <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 (tabela 4.4.box.)Até meados dos a<strong>no</strong>s 1990, eram quase inexistentes os programas de transferênciade renda para o contingente mais pobre da população. Dessa forma, as açõesassistenciais <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da assistência nutricional se davam pela doação de alimentos.Como <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1970, até meados dos a<strong>no</strong>s 1980, a variável cor ou raça esteveausente de quase todos os levantamentos demográficos, fica difícil compreender,baseado nas estatísticas oficiais, como as carências materiais e nutricionaisincidiam sobre os diferentes grupos. O mesmo vale para as ações sociais existentes.Contudo, a partir da segunda metade dos a<strong>no</strong>s 1980 aquela variável passou a serincorporada <strong>no</strong>s questionários dos levantamentos, especialmente da PNAD. Comisso, tor<strong>no</strong>u-se possível obter informações sobre o tema dos efeitos <strong>das</strong> políticassociais sobre as desigualdades de cor ou raça, ao me<strong>no</strong>s a partir do período docomeço da Nova República.Segundo Vasconcelos (2005, p. 446) “em relação às prioridades na áreade alimentação e nutrição, cinco programas foram previstos para 1986: o PAP; oPrograma de Suplementação Alimentar (PSA); o PNAE; o Reforço Alimentar aoPrograma de Creches da LBA e o Programa Nacional do Leite para Crianças Carentes(PNLCC), o qual se constituía na principal i<strong>no</strong>vação da Nova República nesse campo”.Justamente neste a<strong>no</strong> foram incorpora<strong>das</strong> ao suplemento da PNAD algumasperguntas às mulheres de 15 a 54 a<strong>no</strong>s de idade com filhos de até 7 a<strong>no</strong>s de idadesobre o acesso àqueles programas.Em 1986, 16,0% <strong>das</strong> crianças de até 7 a<strong>no</strong>s de idade estavam inscritas emalgum programa de suplementação alimentar. Quando lido de forma desagregadapelos grupos de cor ou raça, este percentual era de 21,0% entre as crianças pretas& par<strong>das</strong> e de 11,6% entre as crianças brancas.Em termos dos programas aos quais as crianças naquela faixa etária estavaminscritos: 57,1% dos pretos & pardos e 48,0% dos brancos eram atendidos peloPrograma de Suplementação Alimentar/ Instituto Nacional de Alimentação eNutrição (PSA/INAN). Já o Programa de Complementação Alimentar da Legião<strong>Brasil</strong>eira de Assistência (PCA/LBA) atendia 15,6% <strong>das</strong> crianças pretas & par<strong>das</strong> e16,2% <strong>das</strong> crianças brancas. O Cupom do Leite atendia 19,2% <strong>das</strong> crianças pretas &par<strong>das</strong> e 26,5% <strong>das</strong> crianças brancas. Em termos do recebimento de algum serviçode atendimento à saúde associado à inscrição <strong>no</strong> programa de suplementaçãoalimentar, 53,7% <strong>das</strong> crianças pretas & par<strong>das</strong> e 52,8% <strong>das</strong> crianças brancasestavam cobertas.Portanto, em 1986, tal como <strong>no</strong>s dias atuais, a maior parte do públicobeneficiário dos programas assistenciais do Gover<strong>no</strong> Federal era formado porpretos & pardos. Curiosamente, os percentuais de atendimento do conjuntodaqueles programas não eram muito diferentes dos percentuais atuais de coberturados domicílios (vide gráfico 4.3), muito embora, tal como já frisado, programasatuais como o Programa Bolsa Família (PBF) envolvam a transferência de valoresmonetários e não de alimentos diretamente.De acordo com Vasconcelos (op. cit.), existem dois aspectos a serem ressaltadosem termos da avaliação <strong>das</strong> políticas assistenciais <strong>no</strong> período anterior ao<strong>no</strong>vo marco constitucional.Por um lado, segundo o autor, com base em indicadores demográficoscoletados <strong>no</strong> período 1975-1989, parcialmente por conta dos programas governamentaisde suplementação alimentar levados a termo, ocorreram efetivosganhos em termos do estado nutricional da população brasileira. Por outro lado,aquelas ações perpetra<strong>das</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980 pelo Gover<strong>no</strong> Federal representavam acontinuidade de um movimento que já vinha se dando desde meados dos a<strong>no</strong>s1970, em ple<strong>no</strong> regime militar. Ou seja, naquele momento, o Estado autoritáriovinha em busca da ampliação de seu grau de legitimidade, combinando a busca daredução <strong>das</strong> mazelas sociais através da expansão de alguns programas assistenciais(incluindo a seara da suplementação alimentar), com a criação de mecanismosassistencialistas, paternalistas e clientelísticos político-eleitorais.Tabela 4.4.box. Crianças me<strong>no</strong>res de 7 a<strong>no</strong>s de idade cobertas por programas de distribuição gratuita de alimentos e, em caso positivo,em que programa, segundo os grupos de cor ou raça selecionados (brancos e pretos & pardos), <strong>Brasil</strong>, 1986 (em % <strong>das</strong> crianças me<strong>no</strong>res de 7 a<strong>no</strong>s)Estava inscritoem programa desuplementaçãoalimentarPrograma deSuplementaçãoAlimentar (PSA/INAN)Programa deComplementaçãoAlimentar (PCA/LBA)Em que programa estava inscritoVinculado à distribuição dosalimentos, recebeu algum serviçode saúde?Cupom do Leite Outros Não Sabe Sim NãoBrancos 11,6 48,0 16,2 26,5 5,5 3,8 52,8 47,2Pretos & Pardos 21,0 57,1 15,6 19,2 4,5 3,6 53,7 46,3Total 16,0 53,6 15,8 22,0 4,9 3,7 53,3 46,7Fonte: IBGE, microdados PNAD (Suplemento “Suplementação alimentar”)Tabulações LAESER: Fichário <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong>Nota 1: a população total inclui os indivíduos de cor ou raça amarela, indígena e ig<strong>no</strong>radaNota 2: <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1986 não inclui a população residente nas áreas rurais da região NorteAlimentar e Nutricional de famílias beneficia<strong>das</strong>. Essa pesquisa foiencomendada pelo Centro de Referência em Segurança Alimentar eNutricional da Rede Desenvolvimento, Ensi<strong>no</strong> e Sociedade (Redes)da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e realizada peloInstituto <strong>Brasil</strong>eiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), soba coordenação de Francisco Menezes. O estudo foi apoiado pelaFinanciadora de Estudos e Pesquisas (Finep), em projeto enviadoinicialmente em <strong>no</strong>vembro de 2005 (SEGALL-CORREA & SALLES-COSTA, 2008; IBASE, 2008).O principal objetivo do estudo foi a identificação da repercussãodo Programa Bolsa Família (PBF) nas condições de SAN<strong>das</strong> famílias beneficia<strong>das</strong>, considerando-se os fatores associadosa esse processo.Dois aspectos orientaram o desenvolvimento da pesquisa. Emprimeiro lugar, trata-se do fato de que foi um estudo que teve comofonte principal de informações os dados derivados da percepção deatores diretamente envolvidos com o programa. Em segundo lugar,a pesquisa tinha por expresso objetivo o seu desdobramento empropostas de políticas públicas, especialmente na articulação entreo PBF e o fortalecimento da SAN junto às famílias beneficia<strong>das</strong>.A pesquisa foi composta por cinco mil domicílios, selecionadosa partir do ca<strong>das</strong>tro derivado do Demonstrativo Físico-Financeiro<strong>das</strong> Transferências Programa Bolsa Família relativo ao mês de136 <strong>Relatório</strong> <strong>Anual</strong> <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; <strong>2009</strong>-<strong>2010</strong>

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