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Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010

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Box 6.8. Presença preta & parda <strong>no</strong>s cursos de pós-graduação (tabela 6.9.box.)Para além do tema do acesso às universidades, outra questão de fundamentalimportância, quando se pensa em termos <strong>das</strong> políticas de promoção da igualdaderacial <strong>no</strong> sistema brasileiro de ensi<strong>no</strong>, vem a ser a questão do acesso à pósgraduação,especialmente a de estrito senso. Ou seja, os cursos de mestrado edoutorado. Assim, se é bem verdade que o acesso à universidade é decisivo emtermos da futura inserção profissional dos jovens, o acesso à pós-graduação édeterminante para o específico acesso às carreiras liga<strong>das</strong> ao meio científico eacadêmico.Em 2008, a população total residente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> vinculada a algum programade pós-graduação (mestrado e doutorado) foi de 325.907 pessoas. Destes, 258.738eram brancos. Ou seja, as pessoas deste grupo de cor ou raça totalizavam 79,4%do total dos alu<strong>no</strong>s cursando mestrado ou doutorado <strong>no</strong> país. Já os pretos &pardos vinculados a algum programa de pós-graduação eram apenas 65.045(20,0% do total dos estudantes de mestrado e doutorado matriculados <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>). Comparando-se aquele valor relativo à proporção de pretos & pardos<strong>no</strong> total de estudantes de ensi<strong>no</strong> superior (cerca de 34% em 2008), percebe-seque existia uma barreira adicional para as pessoas deste último grupo de cor ouraça na passagem da graduação para a pós-graduação.De fato, entre 1988 e 2008, ocorreu um crescimento exponencial deestudantes frequentando cursos de pós-graduação (crescimento de 1,4% ao a<strong>no</strong>).A taxa média geométrica de crescimento da população branca que frequentavacursos de mestrado e doutorado também foi de 1,4%. O mesmo indicador, <strong>no</strong>caso da população preta & parda, foi de 1,5%. Contudo, embora o saldo líquidofosse ligeiramente mais favorável aos pretos & pardos, as assimetrias entre osgrupos de cor ou raça eram gritantes. Ademais, é importante voltar a salientarque o ponto de partida dos pretos & pardos era muito modesto, tornando-sequalquer crescimento proporcionalmente muito acentuado.Assim, a presença dos brancos <strong>no</strong>s cursos de pós-graduação foi, em 2008,297,8% superior à presença dos pretos & pardos.Tabela 6.9.box. População residente que frequentava curso depós-graduação (mestrado e doutorado), segundo os grupos de cor ouraça selecionados (brancos e pretos & pardos),<strong>Brasil</strong>, 1988, 1998 e 2008 (em número de pessoas)1988 1998 2008Brancos 44.097 160.584 258.738Pretos & Pardos 3.517 25.255 65.045Total 49.911 188.498 325.907Fonte: IBGE, microdados PNADTabulações LAESER: Fichário <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong>Nota 1: a população total inclui os indivíduos de cor ou raça amarela, indígena e ig<strong>no</strong>radaNota 2: <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1988 e 1998 não inclui a população residente nas áreas rurais da regiãoNorte (exceto Tocantins em 1998)Nota 3: os dados da população preta & parda <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1988 e 1998 apresentam coeficientesde variação (CV) superiores a 15% e devem ser usados com cautelaPor conseguinte, <strong>no</strong> somatório <strong>das</strong> diferenças existentes entreas condições de infraestrutura e as condições de segurança <strong>das</strong>escolas públicas e particulares, e entre brancos e negros & pardos/mulatos, podem-se tirar algumas evidências preliminares de algunsimportantes fatores que levam aos diferentes níveis de desempenhodos estudantes dos respectivos grupos, tal como dialogado <strong>no</strong>começo da presente seção.6.8. Considerações finais(gráfico 6.13. e quadro 6.1.)No a<strong>no</strong> de 1980 a eco<strong>no</strong>mia brasileira apresentou uma taxa decrescimento do Produto Inter<strong>no</strong> Bruto (PIB) de 9,2% em relação aoa<strong>no</strong> anterior. De fato, este seria o último ato de um longo períodode crescimento que remontava ao final da 2ª Guerra Mundial.Assim, desde a década de 1950 até aquele a<strong>no</strong>, o PIB brasileirojamais apresentou variação negativa. Daquele momento em diante,a eco<strong>no</strong>mia do país patinaria em níveis de crescimento muitobaixos, em alguns a<strong>no</strong>s mesmo negativos. O PIB per capita ficoupraticamente estagnado até os dias atuais.Alternando a reflexão para o tema do desenvolvimentosocial, naquele mesmo a<strong>no</strong> de 1980 foi realizada, pelo Instituto<strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma <strong>no</strong>va edição doCenso Demográfico. Analisando-se especificamente os indicadoreseducacionais, verifica-se que a taxa de analfabetismo de toda apopulação brasileira acima de 15 a<strong>no</strong>s de idade era superior aos25%. Ou seja, déca<strong>das</strong> e mais déca<strong>das</strong> de crescimento econômicoacelerado não impediram que, ao final, um em cada quatrobrasileiros sequer soubesse ler e escrever um simples bilhete <strong>no</strong>idioma que dominava. Lido de forma desagregada pelas grandesregiões do país, <strong>no</strong> Nordeste, este percentual era de 45,8%, e <strong>no</strong>Norte, de 29,1%. Mas mesmo nas regiões mais desenvolvi<strong>das</strong>, oquadro estava distante do razoável, com as taxas de analfabetismoinvariavelmente ficando acima de 15%.Quando os indicadores sobre a taxa de analfabetismo <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> em 1980 eram combinados com a variável cor ou raça,observa-se que o quadro de precariedades ficava ainda mais nítido.Naquele a<strong>no</strong>, em todo o país, quase 40% dos pretos & pardos eramanalfabetos, ante 16,1% dos brancos. No Nordeste, mais da metadedos pretos & pardos era analfabeta, ante 34,8% dos brancos. Noconjunto <strong>das</strong> demais regiões geográficas do país, jamais a taxade analfabetismo dos pretos & pardos deixava de ser inferior a25% (entre os brancos residentes fora do Nordeste, a taxa maisalta era encontrada <strong>no</strong> Norte, com 19,2%).Tomando de empréstimo o aporte teórico de Amartya Sen (2000[1999]), saber ler e escrever é um ativo elementar em termos <strong>das</strong>funcionalidades de um indivíduo. Se a ausência daquela capacidadejá é um sério fator limitador em qualquer contexto, tal lacuna se tornaainda mais forte <strong>no</strong> cenário de uma população majoritariamenteurbanizada, onde a comunicação pela via escrita e o manejo <strong>das</strong>operações matemáticas elementares é um elemento imprescindívelde socialização de cada pessoa, onde quer que ela esteja.242 <strong>Relatório</strong> <strong>Anual</strong> <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; <strong>2009</strong>-<strong>2010</strong>

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