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Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010

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isso ocorra, estes pla<strong>no</strong>s econômicos, fe<strong>no</strong>típicos e culturais podemestar mesclados, se reforçando mutuamente.Esta predisposição parte de associações psicológicas entre oportador do preconceito e o alvo de seu me<strong>no</strong>sprezo, associando-o– por ig<strong>no</strong>rância, tradição, distúrbios mentais, ojeriza, ódio, má-féou por interesses puramente instrumentais de ganhos materiais,políticos e simbólicos com o rebaixamento da condição social dequem lhe é diferente – a algum conjunto de atributos negativos <strong>no</strong>smais variados aspectos. Tal sentimento não chega a se manifestarnecessariamente através de uma prática discriminatória, podendoser portada pelos sujeitos preconceituosos de forma oculta.Todavia, o preconceito atua <strong>no</strong> sentido do afastamento entre osujeito e o objeto (na verdade, outros sujeitos) dos sentimentospreconceituosos. Quase inevitavelmente, em algum momento,este preconceito se revelará ao mundo em determina<strong>das</strong> situaçõesde contatos interpessoais, especialmente diante dos momentosde conten<strong>das</strong>. Assim, quando tais predisposições transcendem oaspecto puramente psicológico e se tornam uma prática social, elasse derivam para práticas discriminatórias.A discriminação social, étnica e racial corresponde a umaprática individual e institucional de determina<strong>das</strong> pessoas, agindoem <strong>no</strong>me pessoal ou à frente de instituições, que, diante de outrosindivíduos portadores de descritivos distintos aos seus em termoseconômicos, culturais ou físicos, pelas razões já comenta<strong>das</strong>, ospreterirão <strong>no</strong> acesso às oportunidades para a aquisição de ativoseconômicos e imateriais, bem como aos direitos individuais oucoletivos.No pla<strong>no</strong> econômico, a discriminação atua diferenciando, entreos grupos étnico-raciais, as probabilidades de acesso aos ativoseconômicos e mecanismos favorecedores à mobilidade socialascendente: empregos, crédito, propriedades, terra, educação formal,acesso às universidades, qualificação profissional, treinamentos<strong>no</strong> emprego (job-training). No pla<strong>no</strong> dos direitos sociais, adiscriminação opera tolhendo, aos grupos discriminados, o acessoà justiça e à proteção policial contra a violência, bem como criandobarreiras ao acesso aos bens de uso coletivo <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s educacional,ao sistema de saúde e à realização de investimentos públicos nasáreas mais frequentes de residência etc. No pla<strong>no</strong> legal, quandochegam a este ponto, as práticas discriminatórias contra o outroacabam sendo expressas institucionalmente, passando a integraro corpo <strong>das</strong> leis da nação, tal como revela a experiência de paísescomo, por exemplo, EUA (até os a<strong>no</strong>s 1960, quando começaram aser supera<strong>das</strong>) e África do Sul (até 1994, quando, oficialmente, seencerrou o apartheid).O racismo, finalmente, corresponde à codificação ideológicadaquelas predisposições preconceituosas e práticas discriminatóriasdos indivíduos racistas contra os alvos de sua preterição e ojeriza.Tal ideologia pode se manifestar de modo mais ou me<strong>no</strong>serudito (ou pretensamente erudito), porém sempre atua <strong>no</strong>sentido de fundamentar a concepção de que alguns grupos depessoas portadoras de determina<strong>das</strong> formas físicas e étnicas sãonaturalmente superiores às outras, portadoras de outras aparênciase culturas. Esta pretensa superioridade pode ser reivindicadapelos racistas em termos de vários aspectos: capacidade mental,sagacidade, psicológicos, força física, moral, artísticos, religiosos,culturais e estéticos. Porém, em to<strong>das</strong> estas variantes, o racismo atua<strong>no</strong> sentido da fundamentação ética <strong>das</strong> relações assimétricas depoder entre o grupo beneficiário da discriminação e os prejudicadospor estas práticas. Assim, naquela lógica, por definição, os culpadospelas diferenças existentes seriam justamente as vítimas do racismo,visto serem considera<strong>das</strong> inferiores em múltiplos sentidos.A ideologia racista, portanto, atua <strong>no</strong> sentido de justificar moralmenteo preconceito, a discriminação e as situações crônicas dedesigualdade verifica<strong>das</strong> entre as pessoas fe<strong>no</strong>típica e culturalmentediferentes. Ou seja, a ideologia racista adestra os olhos e a mente detoda a sociedade para a aceitação acrítica da coincidência verificadaentre as hierarquias de classe e as hierarquias étnicas e raciais.Levada aos seus extremos, a ideologia racista fundamentalimpezas étnico-raciais e massacres contra coletividades inteiras(Cf. ARENDT, 2004 [1949]).A agenda contra o racismo e a discriminação racial segue sendoextremamente relevante <strong>no</strong>s dias atuais. Segundo o <strong>Relatório</strong> doDesenvolvimento Huma<strong>no</strong> de 2004, editado pelo Programa <strong>das</strong>Nações Uni<strong>das</strong> para o Desenvolvimento (PNUD), <strong>no</strong> começo dopresente século, 900 milhões de pessoas em todo o mundo, 1/6 dapopulação mundial, formavam mi<strong>no</strong>rias étnicas, raciais, nacionaisou religiosas e, por este motivo, eram discrimina<strong>das</strong> em seus paísesde residência.A luta contra o racismo abriga validade étnica e <strong>no</strong>rmativa decaráter universal. A superação desta mazela somente poderá tercomo grande vencedora toda a humanidade.1.1.h. Será razoável supor que as desigualdadessociais entre brancos e pretos & pardos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, talcomo capta<strong>das</strong> pelas pesquisas oficiais, sejam produtoexclusivo do racismo e <strong>das</strong> discriminações raciais?Em geral, quando se faz esta pergunta está se abordando aquestão pelo seu aspecto específico que vem a ser a renda auferida<strong>no</strong> trabalho ou apropriada pelas famílias. Apesar de esta dimensãoser obviamente relevante, cabe apontar que ela expressa apenasuma parte do que se pode entender por desigualdade, postoque esta também poderia ser entendida desde outros enfoques,como a<strong>no</strong>s de estudos, acesso aos bens de uso coletivo, nível deintensidade dos homicídios etc. De qualquer maneira, tal observaçãonão compromete o conteúdo da pergunta, que, sendo mais bemexplicitada, passará a ser se as desigualdades entre brancos e pretos& pardos, em termos da renda auferida pelo trabalho ou auferidapelas famílias, pode ser, toda ela, associada às discriminaçõesétnicas e raciais.Em geral, quando se quer compreender os fatores determinantes<strong>das</strong> desigualdades da renda do trabalho, utilizam-se técnicasestatísticas de controle de variáveis. Dessa forma, de acordo com ametodologia empregada, são feitas simulações nas quais, mantendoseo conjunto de variáveis independentes inaltera<strong>das</strong> (ceterisparibus), a partir de uma única variável independente se estu<strong>das</strong>ua influência sobre a variação de uma determinada variáveldependente. Assim, por exemplo, a teoria do capital huma<strong>no</strong>estuda o efeito dos a<strong>no</strong>s de estudos sobre a renda justamente apartir do controle <strong>das</strong> demais variáveis independentes (posiçãona ocupação, local de atuação <strong>no</strong> mercado de trabalho, grupo degênero, cor ou raça etc.).Por exemplo, <strong>no</strong> estudo <strong>das</strong> desigualdades salariais entre brancose pretos & pardos, para se compreender os efeitos da discriminaçãoracial sobre as diferenças, é comum estudar as assimetriasIntrodução 21

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