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Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010

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Box 4.5. O que é o Consea?O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) é umórgão de assessoramento da Presidência da República, integrado em 2/3 porrepresentantes da sociedade civil e em 1/3 por representantes dos diferentesministérios que implementam políticas públicas relaciona<strong>das</strong> com a SAN. Por suaprópria composição e pela dinâmica política que o caracteriza, o Consea se destacacomo um espaço institucional de diálogo entre o gover<strong>no</strong> e a sociedade civil.A identificação desses setores e organizações sociais com a SAN édiversa e se dá a partir de critérios associados ao cotidia<strong>no</strong> de trabalhodessas instituições, tendo em vista seus objetos específicos de intervenção,que abarcam atividades referentes à produção, comercialização, acesso econsumo de alimentos.Algumas questões, <strong>no</strong> entanto, se colocam como princípios transversaise, portanto, <strong>no</strong>rteadores dessas ações na ótica da SAN. Neste escopo, asdesigualdades de acesso alimentar, o respeito e o resgate da diversidadecultural vêm contribuindo de forma significativa para que se estabeleçam asconexões <strong>das</strong> organizações que atuam <strong>no</strong> âmbito da temática étnico-racialcom o campo da SAN.Se <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> as questões referentes à equidade eram fundamentalmenteaborda<strong>das</strong> sob a ótica da renda e do acesso a bens e serviços, nas duasúltimas déca<strong>das</strong> crescem as análises que tratam <strong>das</strong> desigualdades sociaisem suas múltiplas dimensões, incluindo as de gênero, cor ou raça e etnia.Pode-se considerar que as questões que vêm sendo trata<strong>das</strong> <strong>no</strong> âmbitodo Consea têm impacto tanto direto como indireto na situação de SAN depopulações negras.O impacto direto reside <strong>no</strong> fato de que o tema da insegurança alimentar,tal como vem sendo analisado ao longo deste capítulo, atinge primordialmentea população afrodescendente, incluindo os segmentos com identidades étnicasespecíficas, como é o caso <strong>das</strong> populações residentes em comunidades deremanescentes de quilombos e as comunidades de terreiros. O impacto indiretoestá associado ao próprio significado da SAN, indissociável de um <strong>no</strong>vo modelode desenvolvimento do país fundado sob a ótica da equidade.Como expressão dessa crescente permeabilidade ao tema <strong>das</strong> políticas deigualdade racial, uma análise comparativa <strong>das</strong> organizações que integraramo primeiro Conselho Nacional de SAN (instituído em 1993) e ao longo dosdois mandatos do segundo Consea (2003-<strong>2009</strong>) indicam uma progressivaparticipação de organizações socais que lidam com as desigualdades degênero, representações de população negra, quilombolas, indígenas, povose comunidades tradicionais.Assim, entre 2003 e os dias atuais, na composição do Consea, dos 38representantes da sociedade civil, o movimento negro ampliou sua participaçãode um para dois representantes. Além disso, <strong>das</strong> seis Comissões Permanentesdaquele Conselho, uma se intitula “Comissão Permanente de Segurança Alimentar<strong>das</strong> Populações Negras”, composta pelas seguintes instituições governamentais:Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA), Ministério <strong>das</strong> Relações Exteriores (MRE),Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), FundoNacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE/MEC) e Fundação CulturalPalmares. E pelas seguintes instituições da sociedade civil: Agentes de PastoralNegros do <strong>Brasil</strong> (APNs), Associação Cultural de Preservação do PatrimônioBantu (ACBANTU), Talher Nacional e Ação <strong>Brasil</strong>eira pela Nutrição e DireitosHuma<strong>no</strong>s (ABRANDH).Assim, segundo aquele levantamento, dos chefes <strong>das</strong> famíliasresidentes em área de quilombos, 15,8% eram analfabetos e 47,3%tinham <strong>no</strong> máximo o primeiro ciclo do ensi<strong>no</strong> fundamentalconcluído. Entre as mães <strong>das</strong> crianças de até 5 a<strong>no</strong>s entrevista<strong>das</strong>, ataxa de analfabetismo era de 7,3%. Outras 43,6% tinham <strong>no</strong> máximoo primeiro ciclo do ensi<strong>no</strong> fundamental concluído. Em termos dainfraestrutura dos domicílios, 35,9% <strong>das</strong> crianças consumiam águasem tratamento, 67,3% tinham formas inadequa<strong>das</strong> de descarte deesgotamento sanitário (ou fossa rudimentar, ou vala/céu aberto),17,8% haviam apresentado sinais de diarreia <strong>no</strong>s últimos 15 diase 58,5% <strong>das</strong> casas não tinham banheiro (Cf. SILVA e col., 2008, p.40-45, tabelas 1, 2, 3 e 4).4.6.c. Políticas sociais nas comunidades deremanescentes de quilombos (tabelas 4.11., 4.12.,4.13., 4.14. e 4.15.)No levantamento feito na Chamada Nutricional Quilombola,percebeu-se um elevado percentual de famílias cujos filhos tinhamregistro de nascimento, cartão de vacinação da criança e recebiamvisitas regulares dos agentes comunitários de saúde e da equipe doPrograma Saúde da Família. No que tange ao atendimento pré-natal,apesar do elevado percentual <strong>das</strong> mães que havia feito o exame(93%), tal indicador não permitia avaliações otimistas quandose analisava o número de consultas realiza<strong>das</strong> (74% fizeram maisde cinco consultas, ou seja, um quarto <strong>das</strong> mães quilombolas nãochegou a fazer o número total de consultas recomenda<strong>das</strong>) e osindicadores <strong>das</strong> futuras mães que fizeram o seu primeiro pré-natalantes dos três meses de gestação (69%).Conforme já comentado, ao longo dos últimos a<strong>no</strong>s veioocorrendo um esforço para a identificação diferenciada dosbeneficiários do PBF que fossem residentes em comunidadesremanescentes de quilombos. De fato, segundo dados da ChamadaNutricional Quilombola, 51,7% <strong>das</strong> famílias se declaravamparticipantes do Programa Bolsa Família, Escola ou Alimentação.Das famílias quilombolas entrevista<strong>das</strong>, 6,5% recebiam cesta dealimentos, 3,8% recebiam o Peti, 2,3%, o Loas-BPC e 8%, o Programade Aquisição de Alimentos – Leite.Da base de dados do CadÚnico, gerada em fevereiro de<strong>2009</strong>, foram identifica<strong>das</strong> 20.195 famílias residentes em áreas deremanescentes de quilombos como beneficiárias do PBF. Diante<strong>das</strong> quase 11 milhões de famílias beneficia<strong>das</strong> por este programa(vide tabela 4.4), as famílias quilombolas correspondiam a 0,2%do total.No que tange aos números encontrados na base do CadÚnico,vale ressaltar que este ca<strong>das</strong>tro, tal como previsto <strong>no</strong> Decreto nº 4.887,de 20 de <strong>no</strong>vembro de 2003, respeita o critério de autodeclaraçãopara a identificação da pessoa quilombola. Dessa forma, na base, sãoconsidera<strong>das</strong> famílias quilombolas, aquelas que assim se declararam<strong>no</strong> ato da entrevista, e não apenas as que tenham necessariamentedomicílio em áreas titula<strong>das</strong>.Acompanhando o perfil, já comentado, de maior presença<strong>das</strong> mulheres como titulares do PBF, também nas comunidades148 <strong>Relatório</strong> <strong>Anual</strong> <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; <strong>2009</strong>-<strong>2010</strong>

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