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Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010

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constitucional, Ertha Pascal-Trouillot, que assumiu o gover<strong>no</strong> provisório em1990, após a renúncia do general Prosper Avril, tendo permanecido <strong>no</strong> poder atéfevereiro de 1991, quando o padre Jean Bertrand Aristide, militante da Teologiada Libertação e da Frente Nacional para a Mudança e a Democracia, ascendeuà presidência (CÂMARA, idem).Aristide almejou moralizar a administração pública através de reformas e doafastamento <strong>das</strong> milícias e dos duvalieristas e preconizou iniciativas econômicasque beneficiassem as cama<strong>das</strong> mais desfavoreci<strong>das</strong> (melhorias em transportes,saneamento, agricultura). Entretanto, encontrou entraves econômicos: recessão<strong>no</strong> país, com o Produto Inter<strong>no</strong> Bruto (PIB) tendo apresentado taxa de crescimentonegativo de 0,7% <strong>no</strong> período de 1980-1991; balança comercial deficitária; criseda balança de pagamentos, com um passivo exter<strong>no</strong> total de U$ 850 milhõesde dólares em 1991, e a exigência do pagamento de U$ 34 milhões anuais coma amortização e juros da dívida (CÂMARA, ibidem).O golpe militar, liderado pelo general Raoul Cédras, que depôs o presidenteconstitucionalmente eleito, Aristide, em 30 de setembro de 1991, não se tratou deum fato inédito na história do Haiti. Porém, o episódio mobilizou imediatamente osEstados-membros da Organização dos Estados America<strong>no</strong>s (OEA), que aprovarampor unanimidade uma resolução que determi<strong>no</strong>u a restauração da democraciamediante a recondução do presidente deposto. A demora na obtenção de umasolução pacífica pelas organizações multilaterais aprofundou as dificuldades do paísmais pobre da América, dependente dos fluxos comerciais e da ajuda estrangeirae, portanto, muito vulnerável ao embargo econômico instituído. Em 1994, dianteda ausência do desfecho idealizado, o Conselho de Segurança da ONU autorizou oestabelecimento de uma força militar para a intervenção <strong>no</strong> Haiti (CÂMARA, ibidem).Em 1995, Aristide foi reconduzido ao poder. Uma vez instalado, dissolveuas Forças Arma<strong>das</strong> e indicou Réné Preval, um seu aliado, para um mandatode cinco a<strong>no</strong>s, o qual foi eleito. Aristide mais tarde rompeu com o seu própriopartido e criou um <strong>no</strong>vo, Fanmi Lavalas – o que destruiu a política de aliançasque sustentava o <strong>no</strong>vo gover<strong>no</strong>. As eleições de 2000 favoreceram os candidatosdo Fanmi Lavalas e garantiram a eleição presidencial de Aristide com mandatoaté 2006. Porém, a suspeita de fraudes eleitorais levou a <strong>no</strong>va suspensão definanciamentos estrangeiros ao Haiti, levando ao agravamento da situaçãoeconômica do país. As pressões para a renúncia de Aristide e a revolta armada<strong>no</strong> país conduziram a sua “renúncia” em fevereiro de 2004 e a um <strong>no</strong>vo exílio.No mesmo a<strong>no</strong>, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Minustah(Missão <strong>das</strong> Nações Uni<strong>das</strong> para a Estabilização do Haiti), cujo comando foidelegado ao <strong>Brasil</strong>. Um gover<strong>no</strong> transitório foi estabelecido para orientar arecuperação da eco<strong>no</strong>mia, da segurança e do diálogo político, em um país marcadopelo baixo desenvolvimento econômico, pela precária situação ambiental(desmatamento de 98%), pela alta mortalidade infantil, desnutrição e mortesocasiona<strong>das</strong> por doenças retrovirais, com meio milhão de crianças sem acesso àescola (VALLER FILHO, 2007). Apesar de terem garantido eleições bem-sucedi<strong>das</strong>,setores civis do Haiti, além da ingerência estrangeira, reclamaram da ineficáciada Minustah <strong>no</strong> desarmamento do país e na incapacidade de conter a corrupçãoinserida <strong>no</strong> aparelho governamental.Em janeiro de <strong>2010</strong>, um terremoto arrasou o Haiti, levando à morte maisde 200 mil pessoas e destruindo a capital Porto Príncipe. Diante da tragédia, opresidente Réné Préval solicitou apoio à ONU (que tem re<strong>no</strong>vado anualmenteo mandato da Minustah) e aos EUA, visando a cessão de ajuda humanitáriae a própria reconstrução do país. Neste contexto, os EUA voltaram a enviartropas militares para o país – o que não era realizado desde 2004. Diante daiminência do período de fortes tempestades e furacões que costuma castigaro mar do Caribe durante o período de meados do a<strong>no</strong>, <strong>no</strong> momento em queeste texto estava sendo escrito, mais incertezas e ameaças se abatiam sobreo povo haitia<strong>no</strong>.O escritor uruguaio Eduardo Galea<strong>no</strong> (<strong>2010</strong>), em artigo recente versandosobre a história haitiana, apontou que “a história do assédio contra o Haiti, que<strong>no</strong>s <strong>no</strong>ssos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismona civilização ocidental”.Ao longo do presente <strong>Relatório</strong>, em quase todos os capítulos que o formam,foram também relatados indicadores sociais versando sobre a população haitiana,a partir dos dados produzidos pelo instituto de pesquisa daquele país em 2001.Esta foi a singela forma pela qual a presente publicação pôde manifestar suasolidariedade ao povo daquele país em um momento de prolongados sofrimentos.E de, também, apontar que a intransigente luta pela liberdade dos antigosrevolucionários haitia<strong>no</strong>s – cuja ousadia viria a custar às suas futuras geraçõeso peso do isolamento, da exploração e do descaso do conjunto de países queformam a chamada comunidade internacional – seguirá eternamente sendomotivo de orgulho para toda a humanidade.282 <strong>Relatório</strong> <strong>Anual</strong> <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; <strong>2009</strong>-<strong>2010</strong>

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