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Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010

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as receitas próprias do INSS e as suas despesas com o pagamentodos benefícios previdenciários e não previdenciários. Entretanto,quando se levam em consideração to<strong>das</strong> as receitas da seguridadesocial, como as contribuições, <strong>no</strong> mesmo período, teria ocorridoum saldo positivo em termos operacionais em cerca de R$ 13,1bilhões em valores correntes. Segundo a mesma autora, mesmoquando se considera o resultado da seguridade social em seuconjunto (Previdência Social do Regime Geral de Previdência Social(RGPS) ou dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS),assistência e saúde), e sem levar em consideração as contribuiçõespatronais da União, tendo em vista o total <strong>das</strong> receitas previstasconstitucionalmente e as despesas correntes com estas três esferas,o saldo <strong>no</strong> mesmo intervalo 2000-2006 também seria positivo emcerca de R$ 92,6 bilhões. Dessa forma, para a autora, o orçamentoda seguridade social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é na verdade superavitário, e talsaldo vem sendo sistematicamente aplicado para outras finalidades.“A maior magnitude <strong>das</strong> receitas desvia<strong>das</strong> da seguridade socialdecorreu dos 20% de Desvinculação de Receitas da União (DRU).Esses recursos são aportados na fonte 100 (Recursos Ordinários) e sãolivremente empregados <strong>no</strong> orçamento fiscal. Os relatórios mostramque essa fonte financia vários tipos de despesa (em diferentes órgãose ministérios), entre elas os encargos financeiros da União (juros eamortização da dívida pública)” (GENTIL, 2008, p. 364).Ainda a respeito do déficit <strong>das</strong> contas públicas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, osautores que defendem o modelo previdenciário atual apontamque, na verdade, o maior vilão não é o saldo negativo do INSS, mas,sim, as políticas macroeconômicas conservadoras adota<strong>das</strong> pelossucessivos gover<strong>no</strong>s brasileiros desde 1995.Na verdade, a partir do final dos a<strong>no</strong>s 1990, com a adoçãoda Lei de Responsabilidade Fiscal, o gover<strong>no</strong> brasileiro, <strong>no</strong>s seustrês níveis, veio experimentando sucessivos superávits primários(diferença entre as receitas e as despesas correntes do Estado como pagamento do funcionalismo, o custeio da máquina pública e osinvestimentos). Assim, de acordo com a base de dados do Ipeadata,1<strong>no</strong> a<strong>no</strong> de <strong>2009</strong>, o valor correspondente ao superávit primárioperfazia 2,05% do Produto Inter<strong>no</strong> Bruto (PIB) brasileiro. Contudo,quando se incorporavam na análise os gastos do gover<strong>no</strong> com opagamento da dívida interna (influenciada pelo nível da taxa dejuros Selic), ocorria um déficit <strong>no</strong>minal de 3,23% do PIB. Ou seja, ocrescimento da dívida pública <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, ocorrido em um períodorecente, foi gerado por opções de políticas macroeconômicasque, assim, praticando taxas de juros muitas vezes as maiores emtodo o mundo, acarretaram aumentos crescentes da parcela doorçamento público destinado ao pagamento da dívida interna. Talcomo indica a eco<strong>no</strong>mista Ana Claudia D’além (2008, p. 268): “Onível <strong>das</strong> taxas de juros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tem se mantido muito alto o queprejudica diretamente a condução <strong>das</strong> políticas públicas. Os elevadossuperávits primários conquistados a<strong>no</strong> a a<strong>no</strong> têm sido largamentesuperados pelas despesas com o pagamento dos juros”.Os autores que argumentam favoravelmente ao modelo deseguridade social atual também tendem a vislumbrar <strong>no</strong>s desajustesdo mercado de trabalho brasileiro uma grande responsabilidadepelos problemas previdenciários atuais. Assim, ao invés de apontaro excesso de regulamentação do mercado de trabalho, este1. Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?SessionID=1635320923&Tick=1275175673714&VAR_FUNCAO=Ser_MUso%28%29&Mod=M.campo teórico vislumbra que as eleva<strong>das</strong> taxas de informalidadee desemprego decorrem <strong>das</strong> políticas de ajuste estrutural daeco<strong>no</strong>mia brasileira, de caráter neoliberal, que, basea<strong>das</strong> na aberturacomercial, <strong>no</strong>s juros elevados e nas despesas crescentes com opagamento da dívida pública, acabariam favorecendo de diversasformas a desestruturação do mercado de trabalho brasileiro. Noque tange ao tema do processo de envelhecimento, estes autoresapontam que a pirâmide demográfica brasileira atual pode serconsiderada ainda razoavelmente jovem comparativamente àdos países desenvolvidos, e que, portanto, o colapso demográficoprevisto pelos autores mais pessimistas não se confirmaria em umprazo de tempo mesmo médio.Tal perspectiva igualmente defende a manutenção do saláriomínimo como a remuneração mínima dos benefícios previdenciários,destacando sua importância <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da distribuição de renda eda redução dos níveis de pobreza da população, especialmente aresidente nas regiões Norte e Nordeste e <strong>no</strong> meio rural.Por outro lado, em meio a tantas divergências, tanto as vozes afavor da reforma do sistema previdenciário, como as vozes que seposicionam <strong>no</strong> sentido da preservação dos fundamentos do atualmodelo, se unificam em uma especial dificuldade em incorporarem suas abordagens da temática <strong>das</strong> assimetrias de cor ou raça <strong>no</strong>acesso à Previdência Social e <strong>das</strong> possíveis implicações que taisdiferenças poderiam ter, tanto em termos de seu papel redistributivo(seja em sentido progressista ou regressista), como para o própriofuturo do sistema.5.3. Metodologia de construção dosindicadores sobre a PrevidênciaSocial a partir da PNADTendo em vista o objetivo do capítulo, também cabe apontara metodologia de levantamento <strong>das</strong> informações junto à base dedados da PNAD.No que tange à cobertura previdenciária, foi feito umlevantamento da População Eco<strong>no</strong>micamente Ativa (PEA) entre16 e 64 a<strong>no</strong>s de idade, que contribuía para a Previdência Social.O período coberto para o estudo <strong>no</strong> presente capítulocompreendeu o intervalo decorrido desde a promulgação da <strong>no</strong>vaConstituição brasileira, ou seja, entre 1988 e 2008. Para a construçãoda série histórica, foram incorporados a<strong>no</strong>s intermediários –especialmente o de 1998 –,permitindo assim a compreensão dedetermina<strong>das</strong> inflexões específicas que possam ter ocorrido naqueleperíodo de tempo.Na tentativa de construção da série histórica a partir dosmicrodados da PNAD, teve-se de enfrentar dois tipos de problema.O primeiro foi decorrente <strong>das</strong> alterações do ambiente institucional,com a promulgação da Carta Magna <strong>no</strong> que tange à PrevidênciaSocial. O segundo problema disse respeito às próprias alteraçõesocorri<strong>das</strong> na base de dados da PNAD dos a<strong>no</strong>s 1980 em diante, oque obrigou a formulação de algumas adaptações, que uma vezprocedi<strong>das</strong>, não permitiram uma rigorosa comparabilidade nasérie de dados construída.Considerando-se os respectivos marcos legais, na PNAD 1988foram considerados como com cobertura por contribuição: i)os empregadores em atividades agrícolas e não agrícolas desde162 <strong>Relatório</strong> <strong>Anual</strong> <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; <strong>2009</strong>-<strong>2010</strong>

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