Box 3.2. Presença preta & parda <strong>no</strong> seio da população brasileira: uma leitura histórica (gráfico 3.2.box.)Desde o a<strong>no</strong> de 1872, quando o <strong>Brasil</strong> ainda era Império, são realizados levantamentosdemográficos de cobertura nacional em todo o país. Assim, desde então já foramrealizados dez levantamentos dessa natureza <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: 1890, 1900, 1920, 1940, 1950,1960, 1970, 1980, 1991 e 2000, sendo os últimos sete já realizados pelo IBGE. Outrolevantamento demográfico de caráter nacional é a Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios (PNAD), realizada desde 1967 até os dias atuais.Todavia, nem sempre a cor ou raça da população foi levantada naquelesestudos. No caso do Censo, a variável cor ou raça não foi indagada em 1900,1920 e 1970. Já nas PNADs, a cor ou raça ficou ausente durante os a<strong>no</strong>s 1960e 1970, com exceção de 1976, quando foi indagada em uma subamostra.Posteriormente, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1980, a PNAD captou a cor da população em 1982, 1984(apenas para as mulheres entre 15 e 54 a<strong>no</strong>s de idade), 1985 (apenas nas regiõesmetropolitanas, para mulheres de 15 a<strong>no</strong>s ou mais de idade e para a populaçãoinfantil e adolescente entre 0 e 17 a<strong>no</strong>s de idade;) e de 1986 em diante, e em 1987a pergunta se incorporou definitivamente ao questionário principal, deixandode ser uma categoria presente apenas <strong>no</strong>s suplementos.Uma leitura da presença preta & parda na população residente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>naqueles diversos levantamentos revela informações <strong>no</strong> mínimo curiosas. Assim,em toda a história <strong>das</strong> pesquisas demográficas oficiais <strong>no</strong> país, somente em 1872 ospretos & pardos, em condição livre e escravizada, formavam a maioria da população,respondendo por 58,0% do total (38,3% pretos, 19,7%, pardos). Já <strong>no</strong> levantamentode 1890, o primeiro da República, o percentual de pretos e mestiços (de<strong>no</strong>minaçãodada naquele levantamento aos pardos) foi de 47,0%. De qualquer maneira, naquelelevantamento, os classificados como caboclos responderam por 9,0%, fazendo comos que os brancos, em 1890, correspondessem a 44,0% dos residentes <strong>no</strong> país.A variável cor voltaria a ser indagada em 1940, momento em que os pretos& pardos (os que não responderam ao quesito também foram agrupados, nestelevantamento, na categoria pardo) haviam reduzido acentuadamente suapresença relativa na população, tendo declinado para pouco mais de 1/3 do total.Todavia, posteriormente, a presença destes dois grupos veio obedecendo a umpaulati<strong>no</strong> crescimento, 37,5% em 1950, 38,2% em 1960. Conforme mencionado,em 1970 o Censo não incorporou a variável cor, presente, contudo, na PNAD de1976. Naquele levantamento, os pretos & pardos já respondiam por 39,6%. NoCenso de 1980, a presença preta & parda havia subido para 44,8%. Nas PNADsseguintes, realiza<strong>das</strong> ao longo desta década, apesar de terem apresentadopercentuais ligeiramente inferiores, a presença preta & parda manteve-seneste patamar.No Censo de 1991, talvez expressando a célebre campanha promovidapelo movimento negro “Não deixe sua cor passar em branco”, o peso relativo dospretos & pardos na população se elevou para 47,4% do total. Contudo, ao longoda década de 1990, o peso relativo daqueles dois grupos se manteve <strong>no</strong> patamarde 45%, cerca de dois pontos percentuais superior à média da década anterior.Finalmente, na presente década, de alguma forma expressando as mudançasna visibilidade do negro e <strong>das</strong> relações raciais na agenda pública de debates,iniciou-se um processo mais expressivo de crescimento do peso relativo dospretos & pardos <strong>no</strong> seio da população residente. Assim, <strong>no</strong> Censo de 2000, aquelepercentual foi de 46,1%. Mas desde então, com os sucessivos crescimentos naproporção dos que se declaravam pretos & pardos, na última PNAD de 2008, estegrupo já respondia por mais de 50,6% da população brasileira.Em termos da proporção entre os que se declaravam pretos e pardos aolongo daqueles levantamentos, revela-se que em 1872 havia praticamente doispretos para cada pardo. Já em 1890 esta proporção se alteraria para 2,2 pardospara cada preto. Esta desproporção foi aumentando paulatinamente ao longodos sucessivos Censos: 2,4, em 1950; 6,6, em 1980; 7,2, em 2000; porém tendose reduzido para 6,4, em 2008. Estes movimentos podem ser lidos de diversasformas, desde seus aspectos mais propriamente demográficos, até englobandodimensões sociais, culturais e políticas. Assim, <strong>no</strong> que tange à desproporção entrepretos e pardos, estas podem expressar tanto o avanço <strong>das</strong> relações sexuais eafetivas inter-raciais ao longo deste período, como os estigmas que ainda cercama condição negra e que, assim, hipoteticamente, favoreceriam identidadesclassificatórias par<strong>das</strong> em detrimento <strong>das</strong> pretas.De qualquer maneira, <strong>no</strong> nascedouro do século XXI, evidencia-se que osgrupos preto, pardo e indígena, somados, formam a maioria do povo brasileiro.Para além de um mero agregado estatístico, estas informações lançam para aspróximas déca<strong>das</strong> a irresistível tarefa da realização da constituição do país comosocioeco<strong>no</strong>micamente desenvolvido e concomitantemente equânime em termos<strong>das</strong> condições da vida dos grupos étnicos e raciais que o formam.(A este respeito ver também boxes 5.2 e 5.3)Gráfico 3.2.box. Peso relativo da população de cor ou raça preta e parda na população residente segundo levantamentos censitáriose amostrais de caráter nacional realizados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> por órgãos oficiais de pesquisa demográfica, 1872-2008 (em % da população)Fonte1: Censo de 1872, Império do Brazil; Recenseamento do Brazil em 1872. Publicação impressa acessa em meio digital em http://bilioteca.ibge.gov.br/ - Fonte 2: Censo de 1890; Diretoria Geral deEstatística do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas da República dos Estados Unidos do <strong>Brasil</strong>, publicação impressa acessada em meio digital em http://biblioteca.ibge.gov.br/ - Fonte 2:BRASIL. IBGE, Censos Demográficos de 1940, 1950 e 1960, publicação impressa - Fonte 3: IBGE, Censos Demográficos, microdados da amostra de 1980, 1991 e 2000 - Fonte 4: IBGE, PNAD microdadosde 1976, de 1982, 1984, 1986 a 1990, de 1992 a 1999, de 2001 a 2008Tabulações LAESER: Fichário <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong>Nota 1: <strong>no</strong> Censo Demográfico de 1890 não foi indagada a categoria pardo, mas, sim, mestiço. Nota 2: <strong>no</strong> Censo Demográfico de 1940 a população parda & parda está incluindo a população de cor nãodeclarada. Nota 3: nas PNADs de 1976 a 2003 não inclui a população residente nas áreas rurais da região Norte92 <strong>Relatório</strong> <strong>Anual</strong> <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; <strong>2009</strong>-<strong>2010</strong>
3.3. Exames ginecológicos preventivosNa presente seção serão comentados os indicadores contidos<strong>no</strong> suplemento da PNAD 2008 sobre acesso e utilização de serviçosde saúde, sobre a realização de exames ginecológicos preventivosjunto à população do sexo femini<strong>no</strong>. Assim, obedecendo ao roteirode entrevistas daquele levantamento, serão analisados os indicadoresde realização de exames preventivos de mama, mamografia e colode útero. Ao final da seção, serão vistos os indicadores do Sistemade Informações sobre Mortalidade (SIM) acerca da mortalidadepor câncer de mama e de útero, numa tentativa de diálogo entreambas as bases.3.3.a. Exame preventivo de mamas(gráficos 3.5., 3.6., 3.7.)No a<strong>no</strong> de 2008, em todo o <strong>Brasil</strong>, 29,8% <strong>das</strong> mulheres acima de25 a<strong>no</strong>s de idade nunca haviam feito um exame clínico de mamasao longo de sua vida. Quando se observa o indicador desagregadopelos grupos de cor ou raça, verifica-se que, entre as mulheresbrancas, aquele percentualera de 22,9% e o <strong>das</strong> mulherespretas & par<strong>das</strong>, de 37,5%, ouseja, proporcionalmente, 63,9%superior o deste último grupoem relação ao primeiro.Ao se analisar aquele indicadordentro <strong>das</strong> grandesregiões geográficas do país, foiobservado que as assimetrias decor ou raça, desfavoravelmenteàs pretas & par<strong>das</strong>, estiverampresentes em to<strong>das</strong> cinco.Assim, na região Norte, 40,8%<strong>das</strong> brancas e 51,6% <strong>das</strong> pretas& par<strong>das</strong> jamais haviam feito oexame. Na região Nordeste, 40,5%<strong>das</strong> brancas e 47,3% <strong>das</strong> pretas &par<strong>das</strong> igualmente jamais haviamrealizado exames de mama aolongo de suas vi<strong>das</strong>.Nas regiões Sul, Sudeste eCentro-Oeste, os indicadoresmelho ravam, mas ainda assimas assimetrias <strong>no</strong> percentual <strong>das</strong>que nunca haviam feito examepreventivo de mama eramrazoavelmente eleva<strong>das</strong>. Sudeste:brancas, 16,8%; pretas & par<strong>das</strong>,25,6%. Sul: brancas; 21,7%, pretas& par<strong>das</strong>, 30,8%. Centro-Oeste:brancas, 24,9%; pretas & par<strong>das</strong>,31,1%.Quando aquele indicadoracima era desagregado pelosníveis de escolaridade, percebiaseque, quanto maior o grau deinstrução formal, maior era a probabilidade de se ter feito um examepreventivo de mama ao longo da vida. Assim, entre as mulheresde 25 a<strong>no</strong>s ou mais que tinham apenas o ensi<strong>no</strong> fundamentalcompleto, o peso relativo <strong>das</strong> que nunca haviam feito o exame demama foi de 36,8%. Já entre as que tinham nível superior completo,o percentual havia sido quatro vezes inferior, 10,0%. Quando seanalisa o indicador acima desagregado pelos grupos de cor ou raça,percebe-se que se mantinha, para ambos os grupos, a associaçãoentre a probabilidade de realização do exame e o grau de instrução.Contudo, <strong>no</strong> interior de to<strong>das</strong> as faixas de escolaridade seleciona<strong>das</strong>,as assimetrias se mantinham.Dessa forma, entre as mulheres com grau de instrução de <strong>no</strong>máximo o ensi<strong>no</strong> fundamental completo, o peso relativo <strong>das</strong> quenunca haviam feito exame preventivo de mama foi de 30,1%, entreas brancas, e de 42,7%, entre as pretas & par<strong>das</strong>. Entre as que tinhamcomo grau de instrução do ensi<strong>no</strong> médio incompleto ao superiorincompleto, o peso relativo <strong>das</strong> que nunca haviam realizado examepreventivo de mama foi de 17,8%, entre as brancas, e de 29,4%,entre as pretas & par<strong>das</strong>. E, finalmente, entre as mulheres queapresentavam como nível de instrução o ensi<strong>no</strong> superior completo, oGráfico 3.5. População residente do sexo femini<strong>no</strong> de 25 a<strong>no</strong>s de idade ou mais que nunca realizou exame clínicode mamas através de médico ou enfermeiro, segundo os grupos de cor ou raça selecionados(brancas e pretas & par<strong>das</strong>), <strong>Brasil</strong> e grandes regiões, 2008 (em % da população feminina de 25 a<strong>no</strong>s ou mais)Fonte: IBGE, microdados PNAD (Suplemento “Acesso e utilização de serviços de saúde”)Tabulações LAESER: Fichário <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong>Nota: a população total inclui os indivíduos de cor ou raça amarela, indígena e ig<strong>no</strong>radaGráfico 3.6. População residente do sexo femini<strong>no</strong> de 25 a<strong>no</strong>s de idade ou mais que nunca realizou exame clínico de mamasatravés de médico ou enfermeiro de acordo com faixas escolhi<strong>das</strong> de escolaridade, segundo os grupos de cor ou raçaselecionados (brancas e pretas & par<strong>das</strong>), <strong>Brasil</strong>, 2008 (em % da população feminina de 25 a<strong>no</strong>s ou mais)Fonte: IBGE, microdados PNAD (Suplemento “Acesso e utilização de serviços de saúde”)Tabulações LAESER: Fichário <strong>das</strong> <strong>Desigualdades</strong> <strong>Raciais</strong>Nota: a população total inclui os indivíduos de cor ou raça amarela, indígena e ig<strong>no</strong>radaSaúde sexual e reprodutiva 93
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