guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
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10 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />
literatura brasileira, composto <strong>de</strong> palavras comuns, palavras existentes e vivas,<br />
assim como as pouco usadas e os puros arcaísmo, além <strong>de</strong> um imenso léxico da<br />
nossa natureza, nomes <strong>de</strong> pássaros, peixes, árvores, sem esquecer os topônimos<br />
e os neologismos.<br />
Seu primeiro, Sagarana, <strong>de</strong> 1946, já trazia no título um neologismo,<br />
construído pela aglutinação <strong>de</strong> saga, no sentido <strong>de</strong> lenda, <strong>de</strong> narrativa épica e<br />
rana, sufixo tupi, significando semelhante à. São nove contos on<strong>de</strong> presenciamos<br />
a mais alta elaboração lingüística aliada ao uso expressionista da fala<br />
popular, uma das características mais marcante <strong>de</strong> sua obra.<br />
Em 1956, vem à luz Corpo <strong>de</strong> Baile, dois volumes perfazendo 822<br />
páginas, com sete histórias longas. A partir da terceira edição, <strong>de</strong>sdobra-se em<br />
três volumes autônomos, em que figura Corpo <strong>de</strong> Baile como subtítulo – 1°<br />
volume: Manuelzão e Miguelim; 2° volume: No Urubuquaquá, no Pinhém; 3º<br />
volume: Noites do Sertão. Segundo o próprio Guimarães Rosa, “são sete<br />
novelas (que o doutor chama também <strong>de</strong> ‘poemas’ ou <strong>de</strong> ‘romances’ ou<br />
‘contos’), <strong>de</strong>senrolados na região dos campos-gerais, ou dos gerais... narrações<br />
sertanejas, <strong>de</strong> temática universal... revelações sobre a realida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> nossos<br />
trabalhadores <strong>de</strong> gleba”.<br />
Publicado no mesmo ano <strong>de</strong>ste livro, Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas é um<br />
romance que se constitui marco sem igual <strong>de</strong> nossa literatura e que dá a<br />
Guimarães Rosa um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na historiografia literária universal. A<br />
partir daí, essa revolução no uso das potencialida<strong>de</strong>s da língua inva<strong>de</strong> as<br />
experiências e realizações <strong>de</strong> outros escritores, abrindo uma nova fase na<br />
literatura brasileira.<br />
Em 1962, publica Primeiras estórias, seis anos após a consagração <strong>de</strong><br />
Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas, on<strong>de</strong>, apesar da menor incidência <strong>de</strong> palavras e<br />
expressões típicas do sertão, o tratamento artístico dado ao material lingüístico<br />
prossegue o caminho iniciado em Sagarana.<br />
Poucos meses antes da morte <strong>de</strong> Guimarães Rosa foi publicado, em julho<br />
<strong>de</strong> 1967, as quarenta histórias extremamente sintéticas, escritas para jornal, <strong>de</strong><br />
Tutaméia (Terceiras estórias) que, apesar da estranheza que causou, mantém as<br />
mesmas características <strong>de</strong> linguagem dos <strong>de</strong>mais títulos <strong>de</strong> sua obra.<br />
Toda a obra rosiana está perpassada por questionamentos existenciais<br />
que, por meio <strong>de</strong> uma elaborada linguagem, se revelam através da fala <strong>de</strong> seus<br />
personagens – sobretudo, a eterna luta entre o Bem e o Mal, o Amor (ou a<br />
Vida) e a Morte, etc. Especialmente em Gran<strong>de</strong> Sertão:Veredas, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos<br />
perceber com niti<strong>de</strong>z, a partir das perguntas que Riobaldo faz a si próprio, uma<br />
profunda interrogação sobre a existência humana.