guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
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182 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />
Seu companheiro tivera o crânio varado por uma bala e agora ele se via<br />
ligado a um cadáver que o arrastava, pesado como chumbo, para as profun<strong>de</strong>zas<br />
do rio.<br />
A luta recomeçou; Basílio levado para as camadas inferiores, agarrou-se<br />
a um rochedo que se elevava até a superfície e, num esforço sobre-humano,<br />
arrastando-se, e ao companheiro morto, voltou à tona e agarrou-se à anfractuosida<strong>de</strong><br />
duma pedra.<br />
Daí viu os dragões que se retiravam sacudindo gran<strong>de</strong>s fachos acesos,<br />
julgando-os mortos e sepultados nas águas marulhosas do opulento Jequitinhonha.<br />
João Bago tombou realmente nessa tentativa <strong>de</strong> fuga, mas Basílio viveu<br />
ainda porque para mais tar<strong>de</strong> estava marcada sua hora.<br />
No dia seguinte chegou à serra da Barra do Rio Manso, on<strong>de</strong> morava um<br />
parente ferreiro que fez do ferro das correntes dois almocafres e uma alavanca<br />
com que José Basílio continuou o garimpo.<br />
Foi ainda por seis anos o terror das tropas da extração, e em 1791,<br />
trabalhando no Brumadinho com outros companheiros, após uma resistência<br />
heróica, foi preso, ferido gravemente.<br />
Durante o interrogatório não <strong>de</strong>nunciou nenhum <strong>de</strong> seus cúmplices.<br />
Justificando-se plenamente <strong>de</strong> outros crimes que lhe eram imputados, só<br />
foi con<strong>de</strong>nado como extraviador <strong>de</strong> diamantes, a <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gredo para<br />
Angola.<br />
E nada mais reza a crônica sobre esse célebre garimpeiro, cuja lenda foi<br />
reduzida a belíssima forma pelo talento <strong>de</strong> Afonso Arinos.<br />
Porém no ciclo glorioso das lendas do Tijuco sobressai, em primeiro<br />
plano, a figura simpática <strong>de</strong> Isidoro, – o mártir que ainda hoje vive na memória<br />
do povo diamantinense.<br />
Corria a Intendência do Câmara, único inten<strong>de</strong>nte brasileiro e o primeiro<br />
que chamou sobre sua memória a amiza<strong>de</strong> do povo e que a par <strong>de</strong> atos <strong>de</strong><br />
generosida<strong>de</strong> fidalga, e gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> ânimo tem maculando-lhe a vida, o<br />
episódio doloroso <strong>de</strong> Isidoro, o Garimpeiro.<br />
Era esse um pardo, escravo <strong>de</strong> frei Rangel, que vivia da mineração.<br />
Processado como contrabandista, foi confiscado a seu senhor e con<strong>de</strong>nado ao<br />
trabalho, no serviço da extração, como galé.<br />
Não po<strong>de</strong>ndo suportar a pena Isidoro, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias tentativas,<br />
conseguiu evadir-se, reunindo-se a 50 garimpeiros que formaram o bando mais<br />
terrível <strong>de</strong> mineradores clan<strong>de</strong>stinos. Isidoro, como chefe, mantinha no grupo a<br />
mais severa disciplina, e se por acaso, algum dos companheiros infringia as