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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Vitorino Nemésio, poeta em Belo Horizonte ___________________________________________ Heitor Martins 163<br />

<strong>de</strong> lá reemigrou, ao chamo da borracha, para a Manaus radiosa das peúgas <strong>de</strong><br />

seda e da Ópera <strong>de</strong> ouro e <strong>de</strong> mármore.”<br />

Este “en<strong>de</strong>reço” do tio José sobrevive concretamente na memória do poeta<br />

na imagem <strong>de</strong> Afonso Pena, um dos criadores <strong>de</strong> Belo Horizonte, imagem<br />

(...) que um dia<br />

Minha avó regou <strong>de</strong> lágrimas<br />

No selo berilo e <strong>rosa</strong><br />

Da carta do filho ausente.<br />

O escritor açoriano permanece poucos dias em Belo Horizonte e, <strong>de</strong> certa<br />

maneira, talvez por <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> seus hospe<strong>de</strong>iros, a cida<strong>de</strong> serve-lhe principalmente<br />

como eixo <strong>de</strong> uma peregrinação pelos muitos lugares históricos <strong>de</strong><br />

Minas Gerais. Com exceção <strong>de</strong> algumas referências em crônicas, a nomeação<br />

<strong>de</strong> alguns amigos locais e um poema, posterior e curiosamente incluído entre os<br />

9 Romances da Bahia, nos Poemas Brasileiros, Belo Horizonte parece<br />

arrefecer no interesse brasileiro <strong>de</strong> Vitorino Nemésio. Mas nem por isso sua<br />

primeira visão <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter um valor documental para a compreensão <strong>de</strong> como<br />

se faz sua interpretação do Brasil:<br />

“(...) parece-nos que trepámos <strong>de</strong> um Rio magnífico, mas estrangulado<br />

em morros e brumas tropicais, a uma coisa <strong>de</strong> sonho, um acampamento etéreo<br />

<strong>de</strong> pastores <strong>de</strong> zebus fugidos, on<strong>de</strong> faíscam vidraças <strong>de</strong> palácios irreais (...)”<br />

Esta imagem <strong>de</strong> “acampamento etéreo <strong>de</strong> pastores <strong>de</strong> zebus fugidos” é,<br />

entretanto, completada por outra afirmação, menos positiva:<br />

“De volta a Belo Horizonte, do automóvel envolto numa nuvem <strong>de</strong> pó<br />

ferruginoso vejo o Bezerro <strong>de</strong> Ouro humil<strong>de</strong>mente encantado num novilho <strong>de</strong><br />

zebu que muge ao longe.”<br />

Voltemos um pouco atrás em nossas consi<strong>de</strong>rações. A viagem a Minas<br />

Gerais vem mostrar a Vitorino Nemésio um Brasil e um brasileiro que não<br />

encontrara na costa. Se na Bahia o português, por ter “a Baía no sangue”, percebe<br />

Que isto <strong>de</strong> ser brasileiro<br />

É questão <strong>de</strong> começar,<br />

em Minas<br />

“o português cá chegado é logo brasileiro: o mineiro mais nativo é um<br />

português do Poente americano.”

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