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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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210 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

Pensemos no clima do momento: os movimentos <strong>de</strong> vanguarda<br />

suce<strong>de</strong>m-se em turbilhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há quarenta anos. (...) Art et<br />

scolastique é o livro <strong>de</strong> um homem mo<strong>de</strong>rno, (...) <strong>de</strong> um medieval<br />

que crê em Cocteau, se entusiasma com Satie, Milhaud, Poulenc,<br />

com a pintura <strong>de</strong> Severine e com o medievalismo tão imbuído <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> pictórica <strong>de</strong> Rouault.(...)<br />

Não se põe o problema do que está vivo no pensamento medieval:<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, tudo está vivo, porque, em pleno século vinte, ele<br />

pensa como um medieval. (...) a Ida<strong>de</strong> Média não é uma ilha<br />

histórica, mas uma dimensão do espírito. (...) A cultura contemporânea<br />

<strong>de</strong>scobriu assim, graças a ele, a existência <strong>de</strong> uma estética<br />

medieval (...) um instrumento que, ao que parecia, podia atuar no<br />

mais vivo das polêmicas artísticas da época. (ECO, 1972: 101)<br />

Segundo Eco, o “primitivismo” <strong>de</strong> Maritain exercia função libertadora<br />

em relação a tantas hipóteses românticas e <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes que pesavam sobre uma<br />

reflexão estética ditada, sobretudo, pela sensibilida<strong>de</strong>. A cultura mo<strong>de</strong>rna<br />

tomou como novo o que Maritain tomara <strong>de</strong> empréstimo à tradição escolástica<br />

medieval.<br />

Como o filósofo francês, Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> adota uma avaliação histórica<br />

para a arte oci<strong>de</strong>ntal, a partir da qual o advento do Cristianismo, marco<br />

<strong>de</strong>cisivo, separa o Oriente e o Oci<strong>de</strong>nte. Interessa-se, sobretudo, pelo nascimento<br />

<strong>de</strong> um novo conceito <strong>de</strong> Artista – agora valorizado, no mundo<br />

oci<strong>de</strong>ntal, em sua individualida<strong>de</strong> – e pela simultânea procura da Beleza por si<br />

mesma, <strong>de</strong>svinculada dos outros objetivos utilitários que a acompanhavam na<br />

Antigüida<strong>de</strong>. Em um artigo, <strong>de</strong> 1926, sobre o canto gregoriano, incluído<br />

<strong>de</strong>pois no livro Música, doce música (1934), Mário apresenta o conceito <strong>de</strong><br />

consciência individual característico do mundo oci<strong>de</strong>ntal como obra do<br />

cristianismo:<br />

Quem trouxe a idéia prática do homem-só, <strong>de</strong>struindo a base em<br />

que se organizara as civilizações da Antigüida<strong>de</strong>, foi Jesus,<br />

passeando a sua imensa divinda<strong>de</strong> solitária sobre a terra. E com<br />

isso um i<strong>de</strong>al novo <strong>de</strong> civilização ia nascer, provindo não mais do<br />

conceito <strong>de</strong> Socieda<strong>de</strong>, porém do <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>. Porque só<br />

mesmo a realida<strong>de</strong> do indivíduo, que o exame <strong>de</strong> consciência<br />

cristão evi<strong>de</strong>nciava, traz a idéia <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>; ao passo que a

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