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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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62 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

e sobre tudo conversavam e queriam tomar conhecimento. Por on<strong>de</strong> andara o<br />

Grivo, nesses dois anos <strong>de</strong> caminhar, sob or<strong>de</strong>ns do Cara-<strong>de</strong>-Bronze? “Subiu<br />

serras, terras tristes, caminho mau... beirou a caatinga alta, semi<strong>de</strong>iros. Sertão<br />

seco, lagoas secas...” Mas o bem mandado não esbarrou viagem. Chegou a<br />

topar com a Inhorinhá, mulher fácil, personagem que iria reaparecer lá no<br />

Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas, sendo um dos amores <strong>de</strong> Riobaldo. E o Grivo po<strong>de</strong>ria<br />

até mais tar<strong>de</strong> se arrepen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> não a prezar, mas tocou viagem, pois estava era<br />

a mando do Cara-<strong>de</strong> Bronze. Falava-se que o Grivo tinha se casado, e que<br />

“trouxe a mulherzinha <strong>de</strong>le, até... Que <strong>de</strong>ixou a moça na Virada, em casa <strong>de</strong><br />

Dona Zesuína...” mas que a mulher era para o fazen<strong>de</strong>iro. É o que seria a<br />

verda<strong>de</strong>? Até o final da estória, não se teve a comprovação da notícia, embora o<br />

Cara-<strong>de</strong>-Bronze tivesse perguntado ao Grivo: “Como é a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> moça – que<br />

moça noiva recebe, quando se casa?” E ele respon<strong>de</strong>u: “É uma re<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>,<br />

branca, com varandas <strong>de</strong> labirinto...” Mais uma vez, o leitor terá que pôr os<br />

arremates nos enredos <strong>de</strong> Rosa, interrompidos, assim, sumariamente.<br />

A fantástica novela, Buriti, que o autor chama <strong>de</strong> romance, e que revive<br />

em carne e osso a figura <strong>de</strong> Miguel, o Miguilim <strong>de</strong> Campo Geral, já mereceu<br />

interpretações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s críticos. Os cuidados que Rosa teve no capítulo<br />

inicial, quando introduziu a família <strong>de</strong> seo Bernardo Caz, a família Cessim Caz,<br />

não estão claros no texto que dá continuida<strong>de</strong> à estória <strong>de</strong> Miguilim.<br />

Buriti se inicia, quando o moço Miguel, formado em veterinária, retorna<br />

à fazenda do Buriti Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o iô Liodoro reina absoluto. Ali ele estivera<br />

antes, e prometera voltar. Sob a proteção e comando do fazen<strong>de</strong>iro estão as<br />

mulheres da casa, suas duas filhas, Maria da Glória e Maria Behu, e a nora<br />

Dona Lalinha, a Leandra, cujo marido, iô Irvino, parece que endoidara, pois<br />

fugiu com outra mulher. Dizemos que ele per<strong>de</strong>u o juízo, porque a mulher é<br />

<strong>de</strong>scrita como <strong>de</strong> uma beleza estonteante. Há um personagem <strong>de</strong>ntro do enredo,<br />

como não podia faltar às estórias <strong>de</strong> Rosa, o Mestre Zequiel, que não dormia e<br />

vigiava o monjolo noite e dia.<br />

A novela é narrada por uma terceira voz, que muito sabe do rapaz<br />

visitante e <strong>de</strong> outros personagens secundários, e que em <strong>de</strong>terminado momento,<br />

assumem a cena principal do texto, como o Nhô Gualberto Gaspar. É este um<br />

homem que se faz amigo <strong>de</strong> Miguel, mas que vem tumultuar a estória com seu<br />

jeito sarcástico <strong>de</strong> ser, e que <strong>de</strong>svirtua a trama. E o fazen<strong>de</strong>iro vizinho sempre<br />

se mantém por perto, armando uma petulância, um modo um tanto falso <strong>de</strong><br />

proce<strong>de</strong>r. Depois da chegada do jovem rapaz à fazenda do Buriti Gran<strong>de</strong>, o<br />

encontro <strong>de</strong> Miguel com os seus moradores e o envolvimento sentimental <strong>de</strong>le<br />

com a Glorinha, num momento fugaz, porém <strong>de</strong> um certo entendimento entre

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