guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

128 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS
diariamente, fui informado, em tempo real, de que o ministro Cabral havia
fugido com a ministra Zélia – e escrevi: “O ministro fugiu com a ministra”.
Minha fonte: um amigo que os viu passeando de mãos dadas numa praça de
Nova Iorque e telefonou, na hora, do orelhão da praça. Mais “tempo real” que
isso é impossível.
O autor de textos irônicos seria um bem ou mal-humorado, diante
das questões da vida?
Acho que sou bem-humorado, porque sou alegre e de bem com a vida,
amigo de minhas ex-companheiras, pai de três filhas estudiosas, trabalhadoras,
virgens de pós e ervas, que curtem (como o pai) uma cervejinha.
Como apreciador da cerveja, você é assíduo freqüentador de bares?
Fui bacharelado, mestrado e doutorado nos botequins da vida, mas estou
aposentado: só bebo em casa. Com esta onda de assaltos, e seqüestros – com a
violência infinita que se vê por aí – prefiro ficar em casa, até porque sou muito
grande para caber na mala de um carro.
Você é neto de Alice Brant, a Helena Morley, pai de Ana Cristina
Reis, também jornalista e escritora. A literatura é mesmo uma predestinação
familiar?
De repente, em vez de predestinação é uma “imitação”. Meu avô paterno,
que não conheci, publicou quase 30 livros sobre coisas do mar (era comandante
do Lóide Brasileiro); meu avô materno, marido de Alice Brant, foi jornalista e
tinha um livro divertidíssimo, Viagem a Buenos Aires, como correspondente de
O Imparcial, numa viagem realizada em 1916, quando o navio da marinha de
guerra, que escoltava o navio em que viajou o conselheiro Rui Barbosa,
enguiçou no caminho. Dá para imaginar um navio de escolta enguiçado?
Sua avó escreveu o clássico Minha vida de menina, aos 14 anos. Você
também começou cedo na escrita? Como foi esse começo?
Comecei aos 27 com O pinto e a sra. sua mãe (a arte de empobrecer
criando galinhas), quando fui acusado de plagiar The egg and I, de uma autora
americana, que não li até hoje.