15.04.2013 Views

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

68 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

para o Viator, para o homem viajante, sempre insatisfeito com aquilo que o<br />

constitui e que conforma seu ser. Assim, parte, aventuroso, rumo ao excitante<br />

novida<strong>de</strong>iro renovador enriquecedor. Caminhar é preciso.<br />

Tudo muda o tempo todo nas águas do rio, tal qual Heráclito afirmou.<br />

Não se banha os pés pela segunda vez na mesma água do rio. O cosmos está em<br />

mudança constante.<br />

Nada muda por sobre as águas do rio, tal qual, afirmou Parmêni<strong>de</strong>s. O<br />

pai feitoriza a imobilida<strong>de</strong>. “Pai calado, rio calado.” Insere a paralisia no<br />

movimento.<br />

O pai, ativa e solitariamente, fun<strong>de</strong>-se em simbiose ao rio, <strong>de</strong> uma forma<br />

inexplicável e inexprimível.<br />

Aos 14 anos, o enfezado e incompreendido esquizói<strong>de</strong> Joãozito <strong>de</strong>cidiu<br />

<strong>de</strong>itar e nunca mais se levantar. Dado biográfico relatado por ele, João Rosa<br />

(8).<br />

O pai, com sua <strong>de</strong>finição, cria uma aporia, uma dificulda<strong>de</strong> filosófica<br />

para o filho e para todos os <strong>de</strong>mais. Ao inovar em comportamento, o pai gera<br />

um dilema: o quê torna-se interrogação: – Por quê?<br />

Esta é a paixão do filho. Ele é colocado em drama, em busca inútil para<br />

obter uma explicação ou uma justificação para o feito do pai. Debal<strong>de</strong>. O filho<br />

<strong>de</strong>senvolvera um comportamento <strong>de</strong> apego para com o pai. Complexo <strong>de</strong> Édipo<br />

mais especial apego, vinculou o filho em admiração ao pai. Um potente liame<br />

uniu o filho ao pai, mediante um familiar processo intrapsíquico <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

introjetiva.<br />

“Mas, por afeto mesmo, <strong>de</strong> respeito, sempre que às vezes me louvavam,<br />

por causa <strong>de</strong> algum meu bom procedimento, eu falava: – “Foi pai que um dia<br />

me ensinou a fazer assim...”; o que não era o certo, exato, mas, que era mentira<br />

por verda<strong>de</strong>”.<br />

Todo o acervo intrapsíquico <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> que o filho colecionara<br />

estava referido ao exemplo e ao ensinamento do pai. Houvera sintonia entre<br />

os dois: “Espiou manso para mim, me acenando <strong>de</strong> vir também por uns<br />

passos”. O filho acatou internamente o convite do pai, mas se conteve por<br />

temor da mãe.<br />

“Não cito (os autores que leio), mas absorvo”. Assim se explica Guimarães<br />

Rosa.<br />

Os mecanismos <strong>de</strong> operação psíquicos <strong>de</strong> preenchimento do vazio em<br />

tabula rasa do psiquismo infante são, em seqüência, comer o seio, comer a mãe,<br />

comer o outro, o que se conceitua, em psicodinâmica, como sendo incorporação;<br />

imitar os a<strong>de</strong>manes do outro, o que se <strong>de</strong>nomina introjeção.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!