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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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106 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

Guimarães Rosa ofertou a si e aos leitores um real expandido. Parecia<br />

ecoar a lição <strong>de</strong> Gonçalves Dias, em I-Juca Pirama: “O sonho e a vida são dois<br />

galhos gêmeos”.<br />

De par com o seu gran<strong>de</strong> rival, Machado <strong>de</strong> Assis, po<strong>de</strong> ser lido e <strong>de</strong>gustado<br />

por qualquer leitor europeu, estaduni<strong>de</strong>nse ou hispanoamericano. Machado<br />

<strong>de</strong> Assis, numa vasqueira fantasia do pensamento, po<strong>de</strong>ria ser até um escritor<br />

europeu, estaduni<strong>de</strong>nse ou hispanoamericano, tais os condicionamentos eurocêntricos<br />

<strong>de</strong> sua p<strong>rosa</strong> e sua inserção na mundivivência urbana oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Mas com Guimarães Rosa será diferente, não obstante tornar-se cada vez<br />

mais lido e admirado nos idiomas para os quais tem sido transposto. Pois não se<br />

po<strong>de</strong> fantasiar, num salto da imaginação, o nosso Guimarães Rosa a ficcionar<br />

como um escritor europeu, estaduni<strong>de</strong>nse ou hispanoamericano.<br />

É que, fora da língua portuguesa ao estilo brasileiro, sertanejo, assim o<br />

cremos, Guimarães Rosa, com toda a sua plasticida<strong>de</strong>, todo o seu aparato <strong>de</strong><br />

poliglota, todas as suas tonalida<strong>de</strong>s cambiantes, per<strong>de</strong> suas veredas, será peixe<br />

fora da água, estará fadado a um <strong>de</strong>snutrido exemplo exótico.<br />

J. L. Borges? É possível conceber Borges como escritor <strong>de</strong> língua<br />

inglesa. Mostras ele <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong>. Por exemplo, ao compor, com<br />

extrema finura, um soneto em castelhano, <strong>de</strong>dicado a Camões (<strong>de</strong> quem se<br />

julgou aparentado, conforme o poema “Los Borges” <strong>de</strong> El Hacedor: “Nada o<br />

muy poço se’ <strong>de</strong> mis mayores/Portugueses, los Borges”...). Igualmente em<br />

castelhano está todo o universo imagético com que o poeta e p<strong>rosa</strong>dor se<br />

projetou no panorama literário internacional. Mas Os Lusíadas <strong>de</strong> que ele se<br />

utilizou não foi o <strong>de</strong> língua portuguesa, mas o da tradução <strong>de</strong> Richard Burton<br />

para o inglês. E compôs o soneto “A Luís <strong>de</strong> Camões”, <strong>de</strong>nominando “Eneida<br />

lusitana” à epopéia camoneana. Aliás, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> zombar abertamente das<br />

vanguardas, escritas e visuais no poema “Invocación a Joyce”, <strong>de</strong> Elogio <strong>de</strong> la<br />

sombra: “Fruímos el imagismo, el cubismo/ los convertículos y sectas/ que las<br />

crédulas universida<strong>de</strong>s veneran./ Inventamos la falta <strong>de</strong> puntuación/ la omisión<br />

<strong>de</strong> mayúsculas,/ las estrofas en forma <strong>de</strong> paloma/ <strong>de</strong> los bibliotecarios <strong>de</strong><br />

Alexandria.”<br />

Enquanto isso, Gran<strong>de</strong> Sertão:Veredas somente po<strong>de</strong>ria ser redigido em<br />

Português. É o que <strong>de</strong>ixam sentir alguns dos tradutores do romance. O mesmo<br />

não se diria <strong>de</strong> El Aleph (1949). Aliás, Jorge Luis Borges, em entrevista<br />

concedida em 1962, <strong>de</strong>clara: “Tudo o que tenho escrito po<strong>de</strong>ria ser encontrado<br />

em Poe, Stevenson, Wells, Chesterton e alguns outros.” (cf. verbete <strong>de</strong> Jaime<br />

Alazraki, “Jorge Luis Borges”, em Latin American Writers, Vol. II, New York,<br />

Charles Scribner’s Sons, 1989, p. 851).

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