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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e Jacques Maritain ________________________________ Paulo Sérgio Malheiros dos Santos 211<br />

eficiência do homem coletivo <strong>de</strong> antes <strong>de</strong>spertava só a <strong>de</strong><br />

Socieda<strong>de</strong>, o que não é a mesma coisa. Os homens antigos possuíram<br />

noção nítida e agente <strong>de</strong> socialização, porém tiveram idéias<br />

imperfeitas, quase sempre vagas e divagantes, sobre o que seja<br />

humanização e igualda<strong>de</strong> humana. (ANDRADE, Música, doce<br />

música: 25)<br />

Mário ratificará essa mesma idéia, quase com as mesmas palavras, em<br />

sua Pequena história da música (1928). Os objetivos didáticos do livro,<br />

visando <strong>de</strong> imediato os alunos do Conservatório, reforçam a importância<br />

conferida pelo autor a esse momento histórico divisor <strong>de</strong> dois mundos. A<br />

associação do individualismo oci<strong>de</strong>ntal ao advento do cristianismo tem<br />

importância <strong>de</strong>cisiva para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas teorias estéticas e, como<br />

foi dito anteriormente, torna-se um consenso entre os dois autores aqui<br />

focalizados.<br />

Jacques Maritain apresenta um painel da relação do Homem com a<br />

Beleza, seguindo uma cronologia histórica – o mesmo procedimento expositivo<br />

adotado por Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> para sua aula inaugural dos cursos da<br />

Universida<strong>de</strong> do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>pois publicada com o título O artista e o<br />

artesão.<br />

Como ponto <strong>de</strong> partida da viagem pelas formas artísticas no <strong>de</strong>correr dos<br />

séculos, o filósofo francês diferencia a Arte e a Poesia. A Arte <strong>de</strong>fine-se por<br />

uma ativida<strong>de</strong> criadora, produtora ou fabricadora, própria do espírito humano.<br />

A Poesia (e não se trata aqui apenas da arte <strong>de</strong> fazer versos) <strong>de</strong>fine-se por um<br />

processo – a intercomunicação entre o ser interior das Coisas e o ser interior do<br />

Eu Humano. Embora diferenciadas, Arte e Poesia mantêm-se indissoluvelmente<br />

relacionadas. Pelas manifestações artísticas po<strong>de</strong>mos perceber a<br />

Poesia – a união das Coisas com o Homem, o mútuo entrelaçamento entre a<br />

Natureza e o Homem, o encontro entre o Mundo e o Eu. Na História, em diversos<br />

momentos e civilizações, <strong>de</strong>vemos buscar as múltiplas formas do esforço<br />

criador humano. Nessa mirada secular, um primeiro contraste logo se constata:<br />

a diferença entre o Oriente e o Oci<strong>de</strong>nte quanto à percepção do Mundo – da<br />

natureza, das Coisas – e o Eu do artista. De modo geral, a arte do Oriente opõe-se<br />

diretamente ao individualismo oci<strong>de</strong>ntal. Há, na raiz <strong>de</strong>ssa diferença, um<br />

aspecto religioso. Sem a noção <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong> instaurada pelo cristianismo,<br />

não interessa à arte oriental a subjetivida<strong>de</strong> do artista criador. Como as religiões<br />

às quais se ligou, essa arte serve à comunida<strong>de</strong>, transformando as Coisas em<br />

símbolos sagrados, aumentando-lhes a eficácia ritual. Na arte do Oriente

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