guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
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120 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />
consultas ao texto básico do romance, na 14ª edição, 1980, do trabalho <strong>de</strong><br />
Franklin <strong>de</strong> Oliveira, publicado em a Literatura no Brasil, direção <strong>de</strong> Afrânio<br />
Coutinho – Volume 5; da obra do Mineiro <strong>de</strong> Inhapim, Alan Viggiano –<br />
Itinerário <strong>de</strong> Riobaldo Tatarana; e do livro <strong>de</strong> Leonardo Arroyo – A Cultura<br />
Popular em Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas.<br />
Franklin <strong>de</strong> Oliveira menciona que, em Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas, a<br />
estória é contada sob a aparência <strong>de</strong> diálogo, mas, na verda<strong>de</strong>, é um colossal<br />
monólogo. É a estória <strong>de</strong> Riobaldo, quando não é mais jagunço, quando já<br />
<strong>de</strong>ixou a jagunçagem para ser estável fazen<strong>de</strong>iro a passar o melhor <strong>de</strong> seu<br />
tempo no bem-bom do “range-re<strong>de</strong>”, em recordações e dúvidas, sendo a maior<br />
<strong>de</strong>las a existência do diabo, (“O diabo na rua, no meio do re<strong>de</strong>moinho”) –<br />
refrão do livro e se realmente ele, Riobaldo, se tornara pactário, ao ven<strong>de</strong>r a<br />
alma, à meia noite, nas “veredas mortas”, pelas glórias do comando.<br />
Na realida<strong>de</strong>, há três Riobaldos: o jagunço, herói problemático; o fáustico,<br />
pactário – herói resoluto, mas que se trai a si mesmo; e o místico, herói<br />
frustrado, a partir do qual é dada a narrativa. O romance começa, e todo ele é a<br />
evocação <strong>de</strong> sua vida, portanto, não mais a estória <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> ação, mas<br />
<strong>de</strong> um homem que se interroga. De algum modo, um romance <strong>de</strong> ilusões<br />
perdidas.<br />
Riobaldo era garoto pobre no vale do São Francisco, vivendo na região<br />
em que se localizava a “Fazenda Sirga”, nas proximida<strong>de</strong>s do “rio <strong>de</strong> Janeiro”,<br />
afluente do gran<strong>de</strong> rio. Certo dia, saíra para pagar promessa, quando se<br />
encontra com um menino. Com esse menino, apren<strong>de</strong> a lição suprema: a da<br />
Coragem. O menino, mais tar<strong>de</strong> o moço Reinaldo, acompanha Joca Ramiro,<br />
guerrilheiro <strong>de</strong> alta glória. Por pura afetivida<strong>de</strong> a Reinaldo, agora Diadorim, o<br />
ex-menimo engaja-se na jagunçagem. Morre Me<strong>de</strong>iro Vaz, outro “Par-<strong>de</strong>-<br />
França” dos sertões <strong>de</strong> Minas. Ao morrer, Me<strong>de</strong>iro Vaz o escolhe, com um<br />
gesto <strong>de</strong> “herói <strong>de</strong> gesta”, para a chefia. Recusa o comando. A tantas, surge Zé<br />
Bebelo, chefe. As andanças guerrilheiras.<br />
O inimigo, Hermógenes, que à traição assassinara Joca Ramiro, era<br />
pactário. Ação luciferina, <strong>de</strong>mônio <strong>de</strong> armas e tocaia. A obsessão <strong>de</strong> Diadorim,<br />
sortilégio forte sobre Riobaldo, era liquidar Hermógenes. Uma fascinação que a<br />
Riobaldo parecia <strong>de</strong>moníaca. Contudo, resolve ser também pactário. Nas<br />
“Veredas Mortas”, meia-noite, ven<strong>de</strong> a alma ao diabo, pelas glórias do Comando<br />
– subjacentemente, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> liquidar Hermógenes, para crescer aos<br />
olhos <strong>de</strong> Diadorim, – a relação ambígua.<br />
Pacto feito, Riobaldo não é mais o herói problemático, irresoluto. Assume<br />
o comando, com fortes po<strong>de</strong>res. O mundo, agora, em suas mãos, é um