guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

VITORINO NEMÉSIO,
POETA EM BELO HORIZONTE
ALGUMAS NOTAS PESSOAIS E IMPESSOAIS
Heitor Martins*
O primeiro semestre de 1952 marca a passagem de Vitorino Nemésio por
Belo Horizonte. O fato não é muito importante na biografia do poeta açoriano.
Sua viagem ao Brasil é mais produtiva, tanto do ponto de vista de sua permanência
e contribuição cultural para o país, quanto de sua própria criatividade,
naquelas áreas costeiras onde esteve mais tempo e onde formou laços mais
profundos de amizade, Rio de Janeiro e Salvador, Bahia. Mesmo em Minas
Gerais, seu interesse foi muito maior por Ouro Preto e pelas velhas cidades
coloniais do que pela capital do estado. Mas Belo Horizonte é que lhe dá, neste
primeiro contacto com o Brasil, a terceira parte de uma trindade sobre a qual
baseia sua interpretação do país, que, de certa maneira, é também sua
interpretação do contributo cultural da civilização lusitana. É exatamente isto
que este pequeno trabalho pretende mostrar.
No primeiro semestre de 1952, este autor de agora, depois de um exame
vestibular, matriculava-se na então Faculdade de Filosofia da Universidade de
Minas Gerais para cursar um programa de Línguas Neolatinas. Ainda nos seus
primeiros dias de calouro bisonho, uma de suas classes foi transformada em
auditório para um conferencista português que estava de visita à cidade, por
convite do governo mineiro. Dois dias antes da conferência, um dos professores
falara rapidamente sobre o importante escritor português que íamos ouvir.
Talvez por razões que diziam respeito ao conhecimento que aquele professor
tinha do palestrante, a ênfase foi dada ao seu trabalho como historiador literário
e quase nada se falou de sua obra de ficcionista e poeta. Para nós, naquele
momento, Vitorino Nemésio era o autor de A Mocidade de Herculano.
* Escritor mineiro, critico literário, leciona atualmente na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.