guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

João Guimarães Rosa, meu pai _______________________________________________ Vilma Guimarães Rosa 19
Mais tarde, mesmerizado pelo que chamou “o canto e a plumagem das palavras”,
dilataria o seu interesse lingüístico.
Aprendeu vários outros idiomas, como o russo e o japonês. E até o
Esperanto, idioma internacional de Zamenhof.
Quando perguntei-lhe se era fácil aprender o esperanto, papai informoume,
brincando sério: “– Sim, se você conhecer o grego, o latim, inglês, francês,
russo, italiano e espanhol e um pouco das gramáticas de outros idiomas, tornase
facílimo.”
Anos mais tarde, já ingressado na Carreira Diplomática, surpreenderia os
seus chefes e colegas saudando uma delegação oficial japonesa, com impecável
discurso em japonês.
Meu Pai, ainda menino, e seu professor Frei Canízio ficavam ambos
horas e horas debruçados sobre os mapas, conjeturando táticas e discutindo o
movimento das tropas alemãs e aliadas, durante a Primeira Grande Guerra
Mundial. Entusiasmavam-se, espalhando alfinetes sobre os campos de batalha.
Certa vez, Joãozito sugeriu que se os aliados agissem de forma tal, certamente
ganhariam a Batalha. E foi o que aconteceu. Isto, de certa forma, celebrizou-o
entre os mestres e os colegas. Alguns padres redentoristas quiseram, então
conhecê-lo pessoalmente.
Terminado o ginásio no colégio Arnaldo, decidiu-se pela Medicina. Era
uma das faixas de sua vocação, da sua vontade de servir. Seu ideal era salvar a
vida de pessoas que dele precisassem.
Graduou-se com brilhantismo, orador e primeiro da turma, tendo recebido
convites de vários professores catedráticos para com eles trabalhar.
Entretanto, idealista, preferiu fazer a interiorização da Medicina, escolhendo a
cidadezinha de Itaguara, no Município de Itaúna, para abrir uma 1ª clínica, já
que ali não havia médicos.
Os dois anos vividos em Itaguara influíram enormemente na produção
literária de meu pai. Inspirado pela Terra, os costumes, as pessoas e as
acontecências do cotidiano, ele os colecionava, anotando as terminologias dos
seus ditos e falas, a fim de distribuí-los pelas estórias que certamente já estava
escrevendo.
Recém-casado com Lygia Cabral Penna, filha da professora Julia Cabral
e do político e proprietário de Colégio Antônio Affonso Penna, papai tornou-se
o primeiro médico da região. Minha mãe era muito jovem, mas sua personalidade
já era forte e bem definida. Pelo amor ao marido, deixou sua família e a
vida agradável, cheia de conforto e amizades, na capital, acompanhando-o com
coragem. E ajudou-o a vencer as inevitáveis dificuldades surgidas. Durante as