guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
144 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />
mundo, ao clímax: “suicidaram-se os operários <strong>de</strong> Babel”. No momento, a<br />
poeta também estava só, insegura. Mas, apesar <strong>de</strong> tudo, apesar <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r<br />
esperar muito do que era e do que dizia, ela ia repetindo: “Aqui estou, cantando.”<br />
Se não podia <strong>de</strong>ixar para os outros um caminho, <strong>de</strong>ixaria ao menos um<br />
ritmo. O ritmo <strong>de</strong> quem ama e espera <strong>de</strong> quem ainda acredita na canção, na<br />
beleza, nas coisas suaves, por morada do homem.<br />
Acredito que ela subscreveria a frase <strong>de</strong> Rubem Alves: “Algum dia, o<br />
po<strong>de</strong>r será dado à ternura.” Nesse dia, a música <strong>de</strong> Cecília será ouvida e o<br />
mundo vai ficar mais bonito.<br />
8 – Cecília Meireles e Tagore (1)<br />
Uma leitura <strong>de</strong> Cecília Meireles – Teria vonta<strong>de</strong>, agora, <strong>de</strong> convidá-los<br />
para lermos juntos e juntos comentarmos alguns poemas <strong>de</strong> Cecília. Na impossibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> levar muito adiante, no momento, esse projeto, ou antes, esse<br />
sonho, peço que ouçam, mesmo sem som, esta pequena obra-prima, que extraio<br />
dos “Poemas Escritos na Índia” (17) e que se chama, <strong>de</strong>licadamente, “Cançãozinha<br />
para Tagore”. Uma jóia, como tantíssimas outras <strong>de</strong> sua obra poética.<br />
Àquele lado do tempo<br />
on<strong>de</strong> abre a <strong>rosa</strong> da aurora,<br />
chegaremos <strong>de</strong> mãos dadas,<br />
cantando canções <strong>de</strong> roda<br />
com palavras encantadas.<br />
Para além <strong>de</strong> hoje e <strong>de</strong> outrora,<br />
veremos os Reis ocultos<br />
senhores da Vida toda,<br />
em cuja etérea Cida<strong>de</strong><br />
fomos lágrima e sauda<strong>de</strong><br />
por seus nomes e seus vultos.<br />
Àquele lado do tempo<br />
on<strong>de</strong> abre a <strong>rosa</strong> da aurora,<br />
e on<strong>de</strong> mais que a ventura<br />
a dor é perfeita e pura,<br />
chegaremos <strong>de</strong> mãos dadas.