guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
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Tijuco – lendas e tradições ____________________________________________________ Edgar Matta Machado 175<br />
olhares ambiciosos e toda uma re<strong>de</strong> maquiavélica <strong>de</strong> perseguições envolveu o<br />
Tijuco para que aquela abundância fosse ter diretamente aos cofres portugueses.<br />
E efetivamente tombou como um raio sobre a população pacífica o<br />
bando iníquo do governo da Capitania, lançando interdição sobre todas as<br />
lavras.<br />
Vem a propósito contar a lenda dos diamantes que a tradição popular<br />
guarda, e que foi aproveitada por Joaquim Felício no seu romance Acaiaca.<br />
Quando os primeiros exploradores se estabeleceram no Tijuco, viviam<br />
nas gran<strong>de</strong>s florestas que circundavam o <strong>de</strong>scoberto, as tribos selvagens<br />
indômitas que jamais haviam sentido o peso opressor do braço português.<br />
É certo que <strong>de</strong> longe em longe o selvagem havia lobrigado o vulto <strong>de</strong> um<br />
aventureiro branco, carabina a tiracolo, olhar arguto e vivaz, seguindo por uma<br />
rota ignorada em busca <strong>de</strong> esmeraldas ou <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas quimeras que<br />
povoaram o cérebro dos arrojados sertanistas.<br />
Como a vaga noção <strong>de</strong> in<strong>de</strong>finida ameaça, corria entre eles na brumosida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> lendas, a história <strong>de</strong> guerreiros brancos vindos <strong>de</strong> terras remotas, que<br />
venciam na selva o guerreiro feliz; mas até então, a vida <strong>de</strong>ssas tribos corria na<br />
plena liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus vastos domínios entre os episódios da caça e da guerra,<br />
sem outras preocupações que as apoteoses da vitória e os festejos da paz.<br />
Foi então que os <strong>de</strong>scobridores do Tijuco fixaram-se nas vertentes do Rio<br />
Gran<strong>de</strong>, e o gentio da Ibitira sentiu o perigo próximo a conjurar.<br />
Nessa tribo dominadora havia a superstição fabulosa <strong>de</strong> que todo o seu<br />
po<strong>de</strong>rio dimanava <strong>de</strong> um talismã venerado, uma gran<strong>de</strong> Árvore Sagrada, a que<br />
a lenda atribuía uma antigüida<strong>de</strong> imemorial.<br />
Chamavam-na Acaiaca; era um cedro prodigioso, como outro não se<br />
encontrava naquelas regiões, que erguia a fron<strong>de</strong> ver<strong>de</strong>jante à inacreditável<br />
altura por on<strong>de</strong>, nas noites tormentosas a nevrostenia dos ventos uivava dolo<strong>rosa</strong>mente.<br />
E as nuvens <strong>de</strong>nsas das estações hibernais tocadas pelo Norte rijo,<br />
dilaceravam-se nas grimpas elevadas da Acaiaca, <strong>de</strong>ixando gran<strong>de</strong>s fragmentos<br />
brancos como farrapos antigos <strong>de</strong> uma ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Paz.<br />
As gran<strong>de</strong>s tormentas <strong>de</strong> setembro blasfemavam à noite na impotência <strong>de</strong><br />
vencê-la, e a Árvore Sagrada, ao <strong>de</strong>spontar clarinante do Sol, mostrava-se<br />
úmida e ver<strong>de</strong> num espanejamento matinal <strong>de</strong> força e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Enquanto Acaiaca vivesse, <strong>de</strong> pé, como um titã invencível, protegendo<br />
em sua sombra o Conselho dos Pajés e dos Chefes, guardando junto às raízes os<br />
corpos sem vida dos guerreiros finados, a tribo contaria as vitórias pelos