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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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A mulher geométrica – uma incursão ousada no texto <strong>de</strong> João Guimarães Rosa ____________ Onofre <strong>de</strong> Freitas 115<br />

espontânea percepção que o narrador só tem olhos para a beleza física da sua<br />

eleita. Posto que mais adiante se vá referir ao estágio <strong>de</strong>la no internato colegial,<br />

a expressão mais saliente e <strong>de</strong>finitiva que encontra para <strong>de</strong>fini-la é a <strong>de</strong> «minha<br />

<strong>de</strong>liciosa priminha, sendo assim tão “tão”... »<br />

Tão certinha, tão geométrica. Corpo triangular. Olhar oblíquo. A sua<br />

«<strong>de</strong>liciosa priminha», no entanto, lhe resistia com a firmeza <strong>de</strong> «uma gameleira<br />

digna <strong>de</strong> drúidas e bardos».<br />

É preciso buscar explicações e o nosso herói – ele mesmo nos contando –<br />

segue tecendo, comentando fatos, vidas dos outros, enquanto a sua própria<br />

fermenta na espectativa <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s. E uma coisa séria, grave, <strong>de</strong> impacto<br />

<strong>de</strong>cisivo em questões <strong>de</strong> amor... acontece afinal. Tem um nome: Ramiro!<br />

Ramiro é um jovem – noivo <strong>de</strong> Armanda, amiga <strong>de</strong> Maria Irma. O<br />

narrador vai saber disso por informação da própria Maria Irma, que tenta assim<br />

acalmar a reação <strong>de</strong> ciúme <strong>de</strong> seu pretenso namorado e primo. Eis a cena:<br />

«O rapaz trouxe livros para minha prima. Penso mesmo que ele os traz<br />

freqüentemente, porque ouvi Maria Irma falar-lhe em restituir outros. Livros<br />

em francês... Nunca pensei que minha prima os lesse. Também, ela hoje<br />

está toda diferente, mais bonita; por ocasião da minha chegada não se<br />

enfeitou assim! Entre Maria Irma e esse moço há qualquer coisa. Exaspero-me.<br />

Detesto-os!»<br />

Daí até rejeitar o doce – «o doce tinha sido feito para o meu rival».<br />

– cresce a estranheza pela presença do outro. O nosso rejeitado personagem-narrador<br />

não se apercebe do seu erro por nunca ter perguntado a Maria<br />

Irma se ela gostava ou não <strong>de</strong> ler... e coisas mais.<br />

O narrador, todavia, permanece inocente, sem atinar com que Maria<br />

Irma, inteligente tanto quanto bonita, tramava para aproximar <strong>de</strong>le Armanda,<br />

noiva <strong>de</strong> Ramiro. Nos seus planos, os dois se igualavam e plenamente se<br />

mereciam. Enten<strong>de</strong>-se, pois, que Maria Irma pensasse que a amiga Armanda<br />

não merecia Ramiro, o qual se i<strong>de</strong>ntificava melhor com ela – Maria Irma.<br />

Nesse ínterim, o narrador inominado traça uma estratégia <strong>de</strong> retirada e<br />

vai-se embora para a fazenda <strong>de</strong> seu outro tio – Juca Soares. Estando ele pois<br />

ausente, Maria Irma fica livre para ultimar suas tramas no xadrez do amor.<br />

Tempo <strong>de</strong>pois, não muito, o narrador – em princípio amante em retirada<br />

– recebe duas cartas: uma, do tio Emílio, contando sua vitória nas eleições;<br />

outra, <strong>de</strong> Santana, dando continuida<strong>de</strong> ao jogo interrompido no último encontro.<br />

Diz na carta que não existe jogada perdida, e impõe termo à partida, ofere-

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