guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

A inquietante estranheza em A Terceira Margem do Rio ___________________________ Marco Aurélio Baggio 73
mento de João Guimarães Rosa cuida de criar uma língua própria, pessoal,
enormemente enriquecedora das duas margens da língua portuguesa-brasileira.
Rosa é o feiticeiro da língua, inovador e renovador do idioma. Possui o
porte de um Dante, de um Camões, de um Cervantes, de um Shakespeare.
Duas palavras ainda. As concepções de Sigmund Freud ( ). atravessaram
o século XX e umas três dúzias delas mantém-se como fecundas bases para se
pensar aspectos do psiquismo do homem.
O fato de que se pode interpretar “A terceira margem do rio” a partir de
uma visão não devocional da transcendência humana, permite escoimar o conto
de boa parte de suas abstrusidades. O que fiz foi buscar sua hermenêutica
utilizando o falquejo, o desbastamento das formas misteriosas, desmentindo os
milagres que não se vê nem se pega e que, infelizmente, nem sequer acontecem.
Já é hora de creditar a atuação do espírito humano sem edulcorações,
balangandãs ou penduricalhos.
Sem culpa.
Com reverência ao autor forte antecessor.
Com a dignidade do autor menor sucessor.