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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Corpo <strong>de</strong> Baile: <strong>de</strong> Miguilim a Miguel ___________________________________ Carmen Schnei<strong>de</strong>r Guimarães 59<br />

O começo já arremeda uma artimanha do escritor, <strong>de</strong>clarando que Lélio<br />

encontrara no caminho “uma mocinha”, que não era uma mocinha, e que Lélio<br />

não se assustou ao vê-la retornar a cara, mostrando a face <strong>de</strong> uma velha. Era a<br />

Lina, que estava <strong>de</strong> costas, quando ele a avistou pela primeira vez. Daí para a<br />

frente, o reconto se fixa na filial amiza<strong>de</strong> do boia<strong>de</strong>iro pela velhinha, e com<br />

certeza algo muito especial se escon<strong>de</strong> atrás da trama, para ser <strong>de</strong>svendado,<br />

porque há insinuações <strong>de</strong> que Lélio <strong>de</strong>clarara a si mesmo que “o conhecimento<br />

<strong>de</strong>la po<strong>de</strong>ria puxar lembrança comprida”. No mais, das moças do lugar, a<br />

Manuela era noiva do Canuto, mas este a ofereceu ao Lélio, por já ter se<br />

servido <strong>de</strong>la. E <strong>de</strong>pois se casou com a mesma. Restou a Mariinha para que o<br />

vaqueiro firmasse sua vida naqueles gerais escondidos. Mas Rosa não tinha<br />

inclinação para acabar bem suas estórias, e fê-la apaixonar-se pelo seo Senclér.<br />

E seu Senclér e a sua linda e elegante esposa, a dona Rute, iam-se embora. E a<br />

Mariinha teve um <strong>de</strong>scompasso nas <strong>de</strong>spedidas e gritou que queria que a<br />

levassem junto. Mas a justeza <strong>de</strong> caráter do homem e a fidalguia da mulher<br />

fizeram a caravana tocar, “admitindo-se um estado <strong>de</strong> silêncio. E todos respeitaram,<br />

como se tivesse havido ali uma morte ou um acontecimento <strong>de</strong> louco”.<br />

Vê-se que a estória guarda outras interpretações, quando se percebe que o<br />

escritor põe nos fechos a <strong>de</strong>bandada dos principais figurantes do texto. Dona<br />

Rosalina, a Lina, vai-se embora para o Peixe-Manso, pois conhecia o dono<br />

<strong>de</strong>la, e, <strong>de</strong> repente, o Lélio se <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> a acompanhá-la muito praze<strong>rosa</strong>mente.<br />

“– Que é que você vai fazer com uma velha às costas? Mas você não se<br />

arrepen<strong>de</strong> não, meu Mocinho? Vão falar que você roubou uma Velhinha<br />

velha!.” – insinua Lina. “– Mãe, vamos!” Foram. “Olharam para trás: a estrela<br />

Dalva saiu do chão e brilhou, enorme.” Se estivéssemos lendo uma daquelas<br />

estórias infantis, po<strong>de</strong>ríamos jurar que por um passe <strong>de</strong> mágica a velhinha se<br />

<strong>de</strong>sencantaria em uma belíssima donzela e se casaria com o Lino.<br />

Era do gosto <strong>de</strong> Rosa <strong>de</strong>ixar o leitor às voltas com <strong>de</strong>cisões inesperadas<br />

nos enredos <strong>de</strong> suas estórias. Não se encontra um <strong>de</strong>senrolar tranqüilo nos<br />

idílios das novelas que compõem sua obra. No livro Corpo <strong>de</strong> Baile, suce<strong>de</strong>m-se<br />

casos e tramas as mais diversas, mas o homem não afrouxa a mão. Todas se<br />

distanciam do corriqueiro <strong>de</strong> finais venturosos. Até mesmo no Gran<strong>de</strong> Sertão:<br />

Veredas, encontramos um forte exemplo <strong>de</strong>ssa teimosia do escritor <strong>de</strong> excluir<br />

finais alegres e felizes para seus contos e romances. Por que, na batalha final,<br />

quando Reinaldo sangra o satanás dos sertões, o Hermógenes, Guimarães Rosa<br />

não salvou Diadorim para <strong>de</strong>svestir-se em mulher e casar-se com Riobaldo? Ela<br />

mesma, em tempos passados, não havia insinuado ao Tatarana: “– Riobaldo, o<br />

cumprir <strong>de</strong> nossa vingança vem perto... Daí, quando tudo estiver repago e

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