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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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POR QUE GUIMARÃES ROSA?<br />

Fábio Lucas*<br />

Deportado do gregarismo, que faz e refaz o mesmo, Guimarães Rosa<br />

promulgou a sentença <strong>de</strong> morte da maneira européia <strong>de</strong> obrar a ficção, todavia<br />

sem <strong>de</strong>sgarrar-se do Totem carcomido, arruinado. Fez renascer a crença no<br />

vazio das religiões! Pa<strong>de</strong>ceu dos excessos, sem jamais poupar maravilhas.<br />

Teve <strong>de</strong> tornar-se exceção para ser o maior <strong>de</strong> todos. Fundou o território<br />

geopoético <strong>de</strong> Minas tão semelhante às cores do Brasil, que nação e região<br />

viraram sinônimos.<br />

No seu processo crítico-inventor, Guimarães Rosa cita, conceitua e cria<br />

<strong>de</strong> tal modo que a forma se torna maior que a função. Isto é: a arte predomina<br />

sobre o mar <strong>de</strong> lugares-comuns.<br />

A linguagem <strong>de</strong> Guimarães Rosa é a mesma do embuçado nas manhãs<br />

frias <strong>de</strong> Ouro Preto. Traz um segredo, a mensagem do mistério ainda in<strong>de</strong>cifrado.<br />

Quanto a Riobaldo, o narrador incontido <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas, a<br />

sua paz é sua guerra, mas o inverso é também verda<strong>de</strong>iro: a sua guerra é a sua<br />

paz.<br />

O gran<strong>de</strong> lance <strong>de</strong> Guimarães Rosa foi transcen<strong>de</strong>r a ciência dos povos e<br />

procurar investir na valida<strong>de</strong> das microações inúteis, módulos existenciais <strong>de</strong><br />

romper, com o <strong>de</strong>sprograma, o dia-a-dia homogêneo, tediosamente programado.<br />

Ou seja, ele jogou no risco <strong>de</strong> existir nas minúcias <strong>de</strong> cada instante, <strong>de</strong><br />

modo contado, relatado, reconstituído, tornando verda<strong>de</strong> a mentira da ficção.<br />

Praticou, portanto, a alquimia das palavras, mesmo insistindo na fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tudo, já que viver é muito perigoso.<br />

* Professor, ensaísta, autor <strong>de</strong>: Do Barroco ao Mo<strong>de</strong>rno, <strong>Mineira</strong>nças, O Poeta e a Mídia? Carlos<br />

Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto, Lições <strong>de</strong> Literatura Nor<strong>de</strong>stina, Ética e Estética<br />

<strong>de</strong> Érico Veríssimo. Da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Mineira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong> (ca<strong>de</strong>ira 22).

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