15.04.2013 Views

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Por que Guimarães Rosa? _____________________________________________________________ Fábio Lucas 107<br />

Aliás, diga-se em consi<strong>de</strong>ração ao ficcionista argentino que este se agastou<br />

com o comentário <strong>de</strong>preciativo <strong>de</strong> Américo Castro a respeito do “Espanhol”<br />

usado em Buenos Aires, que não passaria <strong>de</strong> áspero e <strong>de</strong>sprimoroso “lunfardo”.<br />

Logo a seguir, Borges foi à forra e verberou o Castelhano <strong>de</strong> alguns espanhóis.<br />

Em suma: Guimarães Rosa é mais intérprete do sertão do que Borges<br />

seja o aedo do orbe gaúcho ou do espaço riopratense.<br />

Recor<strong>de</strong>-se que Américo Castro, em La peculiarid lingüística rioplatense<br />

y su sentido histórico (Buenos Aires: Losada, 1941), usou <strong>de</strong> expressões e<br />

juízos <strong>de</strong> valor que feriram a sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> J. L. Borges. E este, no capítulo<br />

“Los alarmas <strong>de</strong>l Doctor Américo Castro” (cf. Otras Inquisiociones, 1952, em<br />

Obras Completas, vol. 2 – 1952/1972 – Buenos Aires: Emecé Editores, 1990, p.<br />

31) contesta o erudito espanhol, que fala <strong>de</strong> um “<strong>de</strong>sbarajuste lingüístico en<br />

Buenos Aires” e, até, da hipótese do “lunfardismo” e da “mística gauchofilia.”<br />

Guimarães Rosa guardou no seu linguajar um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ruptura tão<br />

distante do convencional que logrou revolucionar a p<strong>rosa</strong> escrita em Português<br />

<strong>de</strong> modo mais radical do que o fizeram José <strong>de</strong> Alencar e Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>.<br />

Alencar, Machado e Mário <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> mexeram na p<strong>rosa</strong> e dotaram a narrativa<br />

<strong>de</strong> meneios sutis e englobantes, mais conforme com a chave da oralida<strong>de</strong> e com<br />

os ritmos da emoção do que os aplaudidos “mestres do bom vernáculo”.<br />

Guimarães Rosa foi mais além: embruteceu o encanto das palavras, restituiu-lhes<br />

certo condão primitivo carregado da poesia mítica, ancestral e nostálgica.<br />

Eis que... “a língua é um alvo em movimento”, como o quer o psicólogo<br />

evolucionista Steven Pinter, professor <strong>de</strong> Harvard (U.S.A.), autor <strong>de</strong> O Instinto<br />

da Linguagem (São Paulo; Martins Fontes; cf. entrevista ao escritor inglês Ian<br />

McEwan na revista Areté, traduzida em “Mais”, Folha <strong>de</strong> S. Paulo <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong><br />

abril <strong>de</strong> 2008, pp. 4-7).<br />

Guimarães Rosa <strong>de</strong>senvolveu a noção <strong>de</strong> que “o idioma é a única porta<br />

para o infinito, mas infelizmente está oculta sob montanha <strong>de</strong> cinzas”.<br />

Curioso é que J. L. Borges não dispensa, na linguagem, o empenhamento<br />

fabril do artesão. Sustenta a gramaticalida<strong>de</strong>, mais do que a textualida<strong>de</strong>, em<br />

“Indagación <strong>de</strong> la palabra”, constante da obra El idioma <strong>de</strong> los argentinos<br />

(Buenos Aires: Seix Barral/Biblioteca Breve, 1994, p. 11). Borges se queixa<br />

dos que censuram suas “gramatiquerías” e solicitam <strong>de</strong>le uma obra “humana”:<br />

“yo po<strong>de</strong>ría contestar que lo más humano (esto es, lo menos mineral, vegetal,<br />

animal y aun angelical) es precisamente la gramática.”<br />

Durante uma análise, palavra por palavra, <strong>de</strong> um trecho muito conhecido<br />

do D. Quijote, comenta: “Es <strong>de</strong>cir, las palabras no son la realidad <strong>de</strong>l lenguaje,<br />

la palabras – sueltas – no existen.” (ob. cit., p. 15). Acrescenta: “Esa es la

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!