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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Corpo <strong>de</strong> Baile: <strong>de</strong> Miguilim a Miguel ___________________________________ Carmen Schnei<strong>de</strong>r Guimarães 61<br />

um louco e segue adiante por outros <strong>de</strong>mentes até chegar aos ouvidos do<br />

Lau<strong>de</strong>lin, cantor e compositor, um sujeito “alegre e avulso”, que o interpreta<br />

em seus versos. O final da estória dá-se em Cordisburgo, on<strong>de</strong> haveria as<br />

comemorações religiosas. Nominedomine, o Santos Olhos, se atreveu a subir ao<br />

altar e fazer terríveis previsões <strong>de</strong> final dos tempos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> repicar loucamente<br />

os sinos. Mas antes que se tomassem providências, chegaram os fra<strong>de</strong>s, e<br />

o frei Florduardo bastou levantar a mão e acalmou-se o apocalíptico pregador.<br />

Pedro Orósio tinha uma gran<strong>de</strong> sauda<strong>de</strong> dos seus campos-gerais. Só se<br />

garantia em po<strong>de</strong>r voltar para a lin<strong>de</strong>za do território on<strong>de</strong> nascera. E ali,<br />

guardava olhos apenas para as moças. Era um conquistador inveterado, e por<br />

causa disto provocava a inveja e o ciúme <strong>de</strong> todos os homens, razão por que<br />

estava sendo jurado <strong>de</strong> morte. Em frente ao hotel do Sinval, on<strong>de</strong> o Lau<strong>de</strong>lin<br />

governava, foi que se ouviu sua mais recente “composição”, que <strong>de</strong>u ao Pê-Boi<br />

o exato enredo da mensagem. E o homem virou mesmo foi um bicho feroz:<br />

“Morrer à traição? Toma, cão!” E foi só o que se viu, logo <strong>de</strong>pois que o Nemes<br />

gritou: “Pega, mata logo, gente, o bruto já <strong>de</strong>sconfiou! Melhor matar logo!” E o<br />

Pedro acordou para <strong>de</strong>bandar o grupo, sovando e rachando homem, achatando e<br />

pisando num e noutro. Foi uma guerra <strong>de</strong> todos contra um, mas acabou com<br />

Pedro Orório se recompondo. Quase rindo, ainda perguntou: “Terei matado<br />

algum?” Daí, mesmo com a noite, esquipou, abriu pernas. Mediu o mundo. Por<br />

tantas serras, pulando <strong>de</strong> estrela em estrela, até aos seus gerais (o que nos faz<br />

lembrar o Gigante das Botas <strong>de</strong> Sete Léguas, da literatura infantil). Heloísa<br />

Vilhena interpreta o final da novela como se o Pê-Boi tivesse morrido, o que se<br />

justifica, pois Rosa <strong>de</strong>ixou sua obra aberta a juízos, os mais diversos.<br />

Em Cara <strong>de</strong> Bronze, o escritor inova, <strong>de</strong>senvolvendo uma narrativa<br />

teatral. As conversas dialogadas são o ponto alto, além das muitas intervenções<br />

<strong>de</strong> trovas, na exaltação poética sistemática do buriti e das boiadas. Há uma<br />

intenção sombreada em suas criações, vendo-se citadas, em análise, as estrofes<br />

<strong>de</strong> Dante – Inferno XIII, 64-65 e Purgatório XXXII, 148 a150.<br />

O Grivo é o personagem que abre a estória, ao chegar à fazenda-<strong>de</strong>-gado,<br />

a maior, no meio, no Urubuquaquá. Vencendo um oceano <strong>de</strong> urucúias, montes,<br />

fundões e brejos, apeia o viajante, naqueles dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando a<br />

chusma <strong>de</strong> vaqueiros operava a apartação do gado. E daí se abrem as conversas<br />

intermináveis. Os vaqueiros são tantos, com nomes mesmo <strong>de</strong> vaqueiros: Zazo,<br />

José Uéua, Adino, Mainarte, Muçapira, Raimundo Pio e Fi<strong>de</strong>lis, Moimeichego<br />

e o Cicica. E começam a inquirir sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do Cara-<strong>de</strong>-Bronze, dono<br />

da Fazenda, e como era mesmo que ele se chamava? – Segisbé, Jizisbéu<br />

Saturnim Velho, confirma o vaqueiro Adino, que era antigo na fazenda. E tudo

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