guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

198 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS
representante do sistema e alguém contrário ao sistema, é, de acordo com o
dramaturgo, “examinar o cenário americano, atacar a substituição de valores
verdadeiros da sociedade norte-americana por valores artificiais, condenar a
complacência, a crueldade, a emasculação e a vacuidade, assumir uma posição
contra a ficção que reveste tudo nesta sociedade”. Esta é, aliás, a tônica de
todos os seus outros trabalhos posteriores. Embora eles possam, aparentemente,
ser realistas, um certo surrealismo pervade sua dramaturgia. Vencedor de três
prêmios Pulitzer, em 1966 com “A delicate balance”, em 1975 com
“Seascape” e em 1994 com “Three Tall Women”, Albee assumiu. Desde
sua primeira peça teatral, lugar de relevo no cenário literário dos Estados
Unidos.
Isolamento em “Zoo Story” transpira em cada linha do diálogo e é predicado
dominante de seus personagens. Mas Peter é inconsciente de sua solidão e
Jerry tem a lucidez necessária para lutar contra a sua. Na é suficiente afirmar
que o mundo é um zoológico onde grades separam os homens: é preciso ir além
e descobrir que homens como Peter estão separados também de sua natureza
animal. É por esta razão que Peter “possui uma invejável inocência”. Nunca lhe
ocorreu que seus gatos poderiam devorar seus periquitos... Ele não é apenas a
versão moderada de “Everyman” em termos de classe média; é também o
estereotipo burguês só identificado pela carteira de motorista, o homem
estatístico, o “Life-and-Time-man”, a média aritmética do comportamento
condicionado, com esposa, duas filhas, dois gatos, dois periquitos, duas
televisões, o emprego certo, o gosto literário “considerado razoável”, o
apartamento no lado “aconselhável” do parque. Enfim, Peter representa tudo
que Albee parece odiar: a letargia e a “gentileza” da sociedade americana, onde
a expressão de uma emoção é mais importante que a emoção em si, a forma
prioritária sobre o conteúdo. E neste ponto o criticismo social de Albee parece
derivar de seus ódios particulares: trata-se de uma revolta pessoal, mais que de
uma consciência social, embora seja difícil separar as duas. No prefácio de
“The american dream” ele afirma que é seu desejo “ofender, tanto quanto
divertir”, acrescentando que “toda obra honesta é pessoal, um atestado individual
de dor ou de prazer” e que espera que a sua transcenda estes limites e se
misture com a angústia de todos nós.
Bens materiais e idéias pré-fabricadas são as substâncias que Peter toma
emprestadas à organização social americana para construir as grades atrás das
quais se isola de seus semelhantes e se distancia de si próprio. No seu domínio
particular a entrada é proibida: ele não permite nenhum diálogo que escape ao
convencionalismo superficial do bate-papo mais trivial. Dispõe-se a escutar