guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
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226 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />
exacerba as condições <strong>de</strong> crítica, cada vez mais questionadoras da obra <strong>de</strong> arte<br />
sem arte, do objeto aleatório, das performances e intervenções, da arte<br />
conceitual e outros vanguardismos. Reivindica-se o retorno à arte como pregam<br />
artigos recentes <strong>de</strong> Ferreira Gullar e Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna. Romano,<br />
em texto recente, lembra fala do maestro Lorin Maazel, que diz que o gran<strong>de</strong><br />
problema que “vitimou gran<strong>de</strong> parte da arte mo<strong>de</strong>rna, é que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser arte<br />
para ser conceito. Conceitos que, ao serem <strong>de</strong>molidos, não <strong>de</strong>ixam nenhuma<br />
arte atrás <strong>de</strong> si”.<br />
Po<strong>de</strong>-se compreen<strong>de</strong>r a arte conceitual, ou a criação/exibição <strong>de</strong> algum<br />
objeto como expondo algum pensamento/conceito, com conteúdo i<strong>de</strong>ológico ou<br />
criação <strong>de</strong> forma. Ou po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r o meramente ornamental. Mas a arte vai<br />
além. Já Ferreira Gullar, mais contun<strong>de</strong>nte, no seu A expressivida<strong>de</strong> da forma,<br />
<strong>de</strong> 1993, diz que “se qualquer forma traçada sobre uma tela expressa alguma<br />
coisa, não importa mais nem o talento nem o conhecimento técnico; todo<br />
mundo é artista e ninguém o é. Se toda forma é expressão e se a arte, livre <strong>de</strong><br />
qualquer princípio ou <strong>de</strong>finição, não é mais do que forma expressiva, então não<br />
se po<strong>de</strong> mais distinguir entre uma obra <strong>de</strong> arte e outra coisa qualquer, outro<br />
objeto qualquer”. Há que se retornar, portanto, à arte, talvez a arte que<br />
<strong>de</strong>monstre virtuosida<strong>de</strong> e criativida<strong>de</strong>, permanência, inovação.<br />
Estas são questões inerentes a uma conversa com Carlos Bracher e sua<br />
vivência, o homem e o artista, vida e obra. Para ele, como primeira condição<br />
para se compreen<strong>de</strong>r a ocorrência da arte-talento, este visto como condição<br />
realizadora, está a indissolubilida<strong>de</strong> entre o artista e o homem, que julga muito<br />
clara em sua trajetória <strong>de</strong> vida e pintura. Sua arte é o seu sentimento e esta vem<br />
da sua experiência no mundo. É por aí que po<strong>de</strong> ver o quanto o talento é<br />
atributo do que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> “humano profundo”. A sua visão do<br />
mundo, do homem e da socieda<strong>de</strong>, vida e morte, as relações nas or<strong>de</strong>ns política<br />
e econômica, condicionam seu “encantamento”. Não compreen<strong>de</strong> o artista frio,<br />
indiferente. Não vê a arte como resultante <strong>de</strong> um eterno sofrimento. A emoção,<br />
triste ou alegre, se dá pela condição vivencial, pelo envolvimento espiritual,<br />
pela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver e envolver, <strong>de</strong> perceber as coisas do mundo. O perigo<br />
maior é o empobrecimento da sensibilida<strong>de</strong> e do humanismo, o embrutecimento,<br />
a <strong>de</strong>scrença.<br />
Olívio Tavares <strong>de</strong> Araújo, prefaciando livro sobre Bracher, diz: “Meu<br />
primeiro conceito é a convicção <strong>de</strong> que talento existe – por mais difícil que seja<br />
<strong>de</strong>fini-lo – e é uma coisa com a qual se nasce ou não”. E conclui: “Não estou<br />
reduzindo o artista a um fenômeno genético. Se fosse só assim, não haveria<br />
como compreen<strong>de</strong>r, racionalmente, certas concentrações ou momentos <strong>de</strong>