guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

158 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS
Nesta etapa, Pedro Paulo conheceu Leni Andrade, jovem detentora de
todas as virtudes que sua fina educação lhe realçou. Filha do respeitável
coronel Paulo René de Andrade, do mesmo berço diamantinense de Juscelino
Kubistchek, de quem foi contemporâneo na Polícia Militar e que o fez comandante-geral
do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais em seu glorioso
quatriênio no Palácio da Liberdade. Leni, tão logo casou-se, passou a ajudar o
marido na empresa.
Já então Pedro Paulo havia passado por todo um aprendizado, discípulo
fiel que foi de Roberto Canavarro Costa, proprietário da Livraria Cultura
Brasileira, homem de pouca cobiça e de muito espírito cívico, algumas vezes
recolhido pela amável chefia de polícia pelos seus destemperos em favor do
ideário comunista.
Em 1955, Pedro Paulo deu mais um passo importante em sua ascensão
como livreiro. Até então representante comercial, atilou que era a hora de abrir
uma loja de livros que correspondesse ao seu tirocínio de comerciante. Nossa
cidade sempre teve inúmeras e boas livrarias. E conheceria mais uma: a Livraria
Itatiaia. Pedro Paulo se transferiu da acanhada sala do edifício IAPI para a
mesma Avenida Amazonas, mas agora na “chic” e recém instalada galeria do
Edifício Dantés.
Rapidamente cresceu o seu negócio. Decidiu entrar no ramo editorial. E
passou a ser livreiro e editor. A Editora Itatiaia consagrou-se como a mais
atuante de Minas e já então marcando presença no cenário nacional. Naquela
Belo Horizonte charmosa dos anos 50, a loja do edifício Dantés promoveu
centenas de tardes (etílicas) de autógrafos de autores mineiros, onde os amigos
do livro confraternizavam comedidamente.
O sucesso crescente obrigou-o a uma nova mudança de endereço, desta
vez para a mundana, boêmia e trepidante Rua da Bahia, o centro do universo
para grande parte da população belorizontina naquele 1960. A moda, já dizia o
poeta Rômulo Paes em famosa marchinha de carnaval, era descer Bahia e subir
Floresta.
Pedro Paulo, correspondendo ao crescente mercado livreiro, adquiriu o
Bar Estrela, o segundo com este nome (o primeiro está retratado por Carlos
Drummond de Andrade), na Rua da Bahia 916. Depois de esgotado o estoque
de comes e bebes, pôs abaixo a construção antiga e ergueu ali a nova Itatiaia,
reaproveitando o madeirame da demolição que revelava o autêntico e
magnífico pinho de Riga, com que revestiu a nova sede. Era uma ampla loja,
uma das maiores livrarias do país, capaz de rivalizar com as grandes de Buenos
Aires, de Lisboa e de Paris. Logo a loja se transformou num dos “points”