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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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92 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

Realmente, a linguagem <strong>de</strong> Guimarães Rosa é uma estilização culta do<br />

dialeto do sertão. Ele não reproduz o falar sertanejo, mas o estiliza, sem fazer<br />

concessões a vulgarismos, sem abdicar <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escritor que<br />

se quer comprometido com a sua língua.<br />

Associando esse compromisso lingüístico a um invulgar domínio da<br />

técnica da narrativa, Guimarães Rosa constrói Sagarana. Para quem já leu e<br />

releu várias vezes esse conjunto admirável <strong>de</strong> contos, torna-se difícil <strong>de</strong>stacar<br />

um entre todos, pelas suas qualida<strong>de</strong>s literárias. Seria “A hora e vez <strong>de</strong> Augusto<br />

Matraga” o melhor <strong>de</strong>les? Ou “Corpo fechado”? Ou “Duelo”? Ou “O burrinho<br />

pedrês”? Qualquer resposta não passaria <strong>de</strong> uma escolha, pessoal e subjetiva,<br />

como costumam ser todas as escolhas. Ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria talvez das circunstâncias<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado momento, como o <strong>de</strong> agora.<br />

Pois, neste momento, aqui e agora, sem nenhuma razão lógica aparente, a<br />

minha preferência vai para “Duelo”, muitas vezes lido na décima edição <strong>de</strong><br />

Sagarana <strong>de</strong> 1968. Desta serão retiradas todas as citações <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

“Duelo” é uma história que tem como protagonista Turíbio Todo, seleiro<br />

<strong>de</strong> profissão, papudo, vagabundo, vingativo e mau (p. 159), e sua mulher, Dona<br />

Silivana, com belos olhos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cabra tonta (p. 147). O antagonista <strong>de</strong><br />

Turíbio, e ao mesmo tempo amante <strong>de</strong> Silivana, é o ex-soldado Cassiano<br />

Gomes, que se diz ex-anspeçada do 1º pelotão da 2ª Companhia, do 5º Batalhão<br />

<strong>de</strong> Infantaria da Força Pública, capaz <strong>de</strong> manejar até metralhadora pesada<br />

(p. 141). O marido traído tenta assassinar o rival, mas é o irmão <strong>de</strong>ste, Levindo<br />

Gomes, que é assassinado em seu lugar. Participa ainda do enredo o capiau<br />

Timpim, que preferia ser chamado <strong>de</strong> Vinte-e-Um, porque a mãe tivera vinte e<br />

um filhos e ele era o <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro (p. 159). Com menor relevo, várias personagens<br />

mais aparecem na narrativa, como o Chico Barqueiro, o Clodino Preto, o<br />

Exaltino-<strong>de</strong>-Trás-da-Igreja, o Seu Raimundo boticário e alguns anônimos, tais<br />

um pedidor-<strong>de</strong>-esmolas, um ladrão <strong>de</strong> cavalos e outros que ajudam a compor a<br />

história, mas não fazem nem bem nem mal ao seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O título do conto, “Duelo”, parece uma estratégia do autor para <strong>de</strong>spertar<br />

e manter a curiosida<strong>de</strong> dos leitores. Com efeito, a leitura nos <strong>de</strong>ixa sempre na<br />

expectativa <strong>de</strong> um enfrentamento entre o protagonista, o seleiro Turíbio Todo, e<br />

o antagonista, o soldado Cassiano Gomes, empenhado em vingar a morte do<br />

irmão, Levindo Gomes. Esse encontro, entretanto, nunca acontece entre os<br />

dois, que passam a história toda em perseguição mútua sem resultados,<br />

verda<strong>de</strong>iro jogo <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>-escon<strong>de</strong>, em que nenhum acha o outro, portanto,<br />

nenhum mata o outro. O fim <strong>de</strong> Turíbio Todo vai ser obra <strong>de</strong> Timpim Vinte-eum,<br />

o capiauzinho com ar <strong>de</strong> bobo, protegido e pago pelo ex-anspeçada

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