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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Corpo <strong>de</strong> Baile: <strong>de</strong> Miguilim a Miguel ___________________________________ Carmen Schnei<strong>de</strong>r Guimarães 57<br />

armações amo<strong>rosa</strong>s no seu começo. Tudo o mais na maioria dos textos rosianos<br />

advém por conta dos <strong>de</strong>vaneios dos vaqueiros: sonhos e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> amores<br />

eternos, suspiros <strong>de</strong> paixões inventadas, ou a peleja gulosa do machismo<br />

necessário e da virilida<strong>de</strong> dos homens sertanejos. As mulheres “públicas”<br />

também laboram com muito prazer, nos enredos. Elas são uma constante em<br />

todas as estórias. E Rosa perdura nelas veementes comentários, com seus<br />

artifícios. Por outro lado, tece enredos platônicos, criados por puro gosto <strong>de</strong><br />

impossíveis paixões, que na verda<strong>de</strong>, formavam só imaginação. Mas no caso <strong>de</strong><br />

Soropita, as coisas eram outras. No momento, ao <strong>de</strong>ixar Andrequicé, on<strong>de</strong> ia<br />

comprar, conversar, saber e escutar as novelas do rádio para transmiti-las aos<br />

tantos curiosos e interessados, seus pensamentos já o levavam para os braços <strong>de</strong><br />

Doralda: sua esposa, <strong>de</strong> casamento com papel passado, no religioso e no civil,<br />

alianças e o mais. Naquele dia, hospedara-se na casa do Jõe Aguial, que se<br />

mudara para o Ão, mas conservava aquela moradia ali. O homem dirigia-se<br />

agora para sua casa, “num vão, num saco da Serra dos Gerais”, on<strong>de</strong> seu amor<br />

o esperava “na regra do primor”. Na verda<strong>de</strong>, Soropita era agora mais um<br />

“encostado”. Deixara a lida <strong>de</strong> boia<strong>de</strong>iro, não supria mais viagens tangendo<br />

gado, tinha adquirido herança <strong>de</strong> família. Vivia um romance real, com a presença<br />

<strong>de</strong> Doralda, seu cheiro e sua beleza. Quando a convidou para ir com ele<br />

embora, <strong>de</strong>ixar a casa das raparigas, ela aceitou <strong>de</strong> pronto. E o escritor,<br />

naqueles tempos do enredo, vai procurar uma colossal encrenca, em reviravolta<br />

<strong>de</strong>ntro da novela. Eis que se aproxima da casa <strong>de</strong> Sorropita um bando <strong>de</strong><br />

homens não muito cre<strong>de</strong>nciados. À frente do grupo, um Dalberto, antigo<br />

companheiro <strong>de</strong> Soropita, que muito sabia das estripulias do ex-boia<strong>de</strong>iro, com<br />

varias mortes nas costas, julgamentos, sentenças e alívio <strong>de</strong> lei, pois falavam<br />

que era Soropita um mandado do Governo, porque ele só estripava gente que<br />

precisava mesmo era <strong>de</strong> sumir. “Liquidou apenas cabras <strong>de</strong> fama, só faleceu<br />

valentões arrespeitados... E ele tirou da circulação uns João Carcará, Antônio<br />

Riachão e o Dengengo, pra diante <strong>de</strong> Januária...” E saiu absolvido, mesmo nos<br />

outros júris, em três comarcas...”<br />

Era <strong>de</strong> se esperar para um final, uma refrega com lances trágicos. A<br />

estória reserva <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> páginas <strong>de</strong> armação <strong>de</strong> tormenta. Questões <strong>de</strong> ciúme<br />

e arquitetura mental doentia. Formava-se um terrível temporal, com nuvens<br />

carregadas e trovões aterrorizadores. A borrasca estava próxima. A revolta do<br />

homem se sobrepunha, na intolerância do ex-vaqueiro, matador. Ele via a<br />

mulher, Doralda, nos braços daqueles todos, e em especial, no <strong>de</strong>boche das<br />

garras <strong>de</strong> um negro, o Iládio, que era quem recebia a <strong>de</strong>scarga maior do ódio<br />

insano <strong>de</strong> Soropita. E nem o pobre era culpado <strong>de</strong> nada, pois a própria Doralda

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