guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

JOÃO GUIMARÃES ROSA, MEU PAI*
Vilma Guimarães Rosa**
Falar sobre meu pai para os que admiram sua obra e reverenciam sua
memória é para mim motivo de orgulho e um dever de devoção.
Questionando sobre os mistérios que envolvem uma existência, procurarei
sintetizar os episódios que definem a personalidade carismática e a
profunda filosofia de vida do gênio maravilhosamente humano que foi meu pai.
Pelo seu espírito a luz perpassa, iluminando a magia que acompanha a
sua lembrança.
Tendo percorrido numa dimensão espiritual os mundos que projetaria em
cada uma de suas estórias, ele satisfez os desejos fundamentais de expressão da
verdade e da beleza.
Era ele um homem que cumpria o seu dever procurando fazê-lo acima e
além do que normalmente se lhe poderia exigir. Manifestou sempre o mais
integral devotamento a tudo o que fazia: uma página escrita, um relatório
funcional, o estudo de um problema técnico ou um desenho para os netos.
Teve amigos, e dedicados. E a eles se dedicou. Gostava imensamente de
conversar. Era um notável conversador. Costumava dizer que durante uma boa
conversa, sempre se aprende. Na realidade era ele quem ensinava.
Era de se absorver inteiramente na contemplação da vida, buscando,
conjeturando, ou simplesmente fruindo o lado positivo das coisas.
Lembro-me do estímulo que dava aos novos escritores. A mim, inclusive,
sempre me revelando o seu entusiasmo pelos meus escritos.
Ele foi, desde cedo, incluído entre as expressões maiores de nossa
literatura. O desenvolvimento de sua Obra confirmou-lhe o valor, universalizando-lhe
o nome. A crítica nacional e também a internacional o aplaudem,
louvando a sua Obra.
* Palestra proferida na Academia Mineira de Letras, em 18 de agosto de 2008, dentro da Semana Cultural
Guimarães Rosa, comemorativa do seu centenário de nascimento.
**Escritora, filha e biógrafa de Guimarães Rosa.