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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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206 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

Rosa, embora haja momentos em que não consegue – nem po<strong>de</strong> – igualar a<br />

contenção do escritor, a exemplo do antológico final “Depois, morreu”.<br />

Cabaré Mineiro não é baseado em Guimarães Rosa. Sua narrativa,<br />

porém, aproxima-se da maneira rosiana <strong>de</strong> ver o mundo, através <strong>de</strong> episódios<br />

aparentemente soltos que compõem um painel <strong>de</strong> riqueza impressionante.<br />

Nesse mosaico, a pedra final é exatamente “Sorôco, sua Mãe, sua Filha”, que<br />

Carlos Alberto Prates Correia foi buscar nas Primeiras Estórias. O personagem<br />

principal <strong>de</strong> Cabaré, Paixão, o aventureiro e jogador vivido por Nélson Dantas,<br />

assiste ao momento em que o <strong>de</strong>solado Soroco coloca sua mãe e sua filha no<br />

trem-prisão que vai levá-las ao hospício <strong>de</strong> Barbacena, ao som <strong>de</strong> uma<br />

marujada montesclarense, para lá terminarem seus dias internadas. Carlos<br />

Alberto integra seu mundo ao <strong>de</strong> Guimarães Rosa (afinal, Montes Claros é um<br />

dos marcos do sertão), presta-lhe respeitosa e belíssima homenagem e consegue<br />

momentos do melhor cinema. O resultado ficou tão bom que ele mesmo não<br />

logrou repetir a façanha em Noites do Sertão, transposição para o cinema <strong>de</strong><br />

“Buriti”, uma das novelas do Corpo <strong>de</strong> Baile. O que, em Rosa, é somente<br />

sugestão – a relação lésbica entre Lalinha e Maria da Glória – ganha tonalida<strong>de</strong>s<br />

mais claras no filme e per<strong>de</strong> força. A isso, soma-se um equívoco lamentável<br />

na escolha <strong>de</strong> vários nomes do elenco, no qual atores <strong>de</strong> televisão não<br />

conseguem sequer enten<strong>de</strong>r as motivações e a maneira <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> pessoas tão<br />

afastadas da cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>.<br />

No entanto, filmes que em nenhum momento se baseiam em textos <strong>de</strong><br />

Guimarães Rosa estão entre os mais rosianos já produzidos pelo cinema. Isso é<br />

fácil <strong>de</strong> explicar. Poucos escritores exerce(ra)m influência tão forte sobre<br />

criadores <strong>de</strong> imagens como Guimarães Rosa – ele, certamente o maior <strong>de</strong> todos<br />

esses criadores. A beleza e a poesia <strong>de</strong> suas narrativas sempre fascinaram<br />

autores <strong>de</strong> gerações diversas e, mesmo que alguns, seja por que motivo for, não<br />

tenham podido utilizar seus contos ou novelas, certamente viram-se impregnados<br />

pelo sertão e os seres que nele habitam. Ao filmar essas histórias<br />

originais, a sombra po<strong>de</strong><strong>rosa</strong> <strong>de</strong> Rosa se mostra onipresente.<br />

É o caso <strong>de</strong> O Homem do Corpo Fechado, primeiro longa-metragem<br />

dirigido por Schubert Magalhães em 1972. Toda a ação se passa nos lugares<br />

que o escritor conheceu e <strong>de</strong>screveu muito bem, mas argumento, roteiro e<br />

diálogos são <strong>de</strong> única responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Schubert. Como nas narrativas<br />

roseanas, a ação po<strong>de</strong> ser resumida em poucas palavras. Se, por exemplo, “A<br />

Estória <strong>de</strong> Lélio e Lina” po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita como um caso <strong>de</strong> amor entre um<br />

vaqueiro e uma velha, se o conto “Famigerado” fala da visita <strong>de</strong> um temível<br />

fora-da-lei a um letrado para saber o significado da palavra-título, “O Homem

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