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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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78 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

momentos <strong>de</strong> corajosa atuação guerreira, uma personalida<strong>de</strong> vencida: um<br />

per<strong>de</strong>dor.<br />

Escrevendo sobre Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas quase 30 anos atrás, <strong>de</strong>i ao<br />

meu livro este título: A epopéia brasileira ou: Para ler Guimarães Rosa. Com<br />

efeito, Gran<strong>de</strong> Sertão:Veredas é uma narrativa com alguns elementos próprios<br />

<strong>de</strong> epopéia. Mas não é, evi<strong>de</strong>ntemente, uma epopéia na forma clássica <strong>de</strong><br />

epopéia. É um romance escrito em p<strong>rosa</strong> – p<strong>rosa</strong> que em inúmeros passos se faz<br />

intensamente poética. Não tem, da epopéia convencional, a proposição, a<br />

invocação às Musas, a <strong>de</strong>dicatória. Ainda bem. Invocar as Musas é uma bobagem<br />

que hoje em dia se po<strong>de</strong> apenas relevar e perdoar em poetas vítimas dos<br />

antigos erros, ilusões e enganos intelectuais da Humanida<strong>de</strong> – os quais,<br />

infelizmente, prosseguem existindo m nossa época. Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas é<br />

uma epopéia original, diferente das <strong>de</strong>mais epopéias antigas: já é uma epopéia<br />

mo<strong>de</strong>rna. Falta-lhe mesmo um outro ingrediente para po<strong>de</strong>r enquadrar-se nos<br />

mol<strong>de</strong>s convencionais do gênero épico: a nobreza da origem do herói protagonista.<br />

De fato, esse requisito parece participar <strong>de</strong> quase todas as narrativas<br />

que, nas diversas literaturas nacionais, têm sido classificadas <strong>de</strong> épicas. O<br />

principal (pois não é o único) herói <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas, o jagunçopoeta-filósofo<br />

Riobaldo Tatarana, é um homem <strong>de</strong> origem muito humil<strong>de</strong>: filho<br />

bastardo <strong>de</strong> um fazen<strong>de</strong>iro, Selorico Men<strong>de</strong>s, com uma mulher humílima (até<br />

no apelido, Bigri), habitante <strong>de</strong> um lugarzinho perdido no sertão <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais, perto do rio <strong>de</strong> São Francisco.<br />

Mas Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas não é a única epopéia escrita por João<br />

Guimarães Rosa. Das outras narrativas que ele produziu, algumas po<strong>de</strong>m ser<br />

também classificadas como epopéias, se examinadas à luz do reconceito, por<br />

mim proposto, <strong>de</strong> epopéia. Dentre tais narrativas, sobressaem as novelas dos<br />

dois volumes integrantes do livro Corpo <strong>de</strong> baile, editado no ano <strong>de</strong> 1956,<br />

poucos meses antes <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas. Aqui, hoje, nesta tar<strong>de</strong>-noite<br />

para mim inesquecível, vou me referir especialmente à novela-poema-romance<br />

“Campo geral”, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira leitura, em 1958 (há, portanto, 50 anos!),<br />

passei a referir simplificadamente com o nome Miguilim. Miguilim é um hipocorístico<br />

<strong>de</strong> Miguel (que em Goiás, observo, seria Miguelim ou Miguelzim).<br />

Observemos, entre parênteses, um pormenor dotado <strong>de</strong> alguma significação:<br />

Guimarães Rosa, que tudo fazia com intenções, chama as peças que<br />

compõem Corpo <strong>de</strong> Baile, sob o título da página <strong>de</strong> rosto, <strong>de</strong> “Sete novelas”; no<br />

sumário, ele as classifica <strong>de</strong> “Os poemas”; e no sumário colocado no fim do 2º<br />

volume – no qual divi<strong>de</strong> o livro em duas partes, em que as peças se suce<strong>de</strong>m<br />

em or<strong>de</strong>m alternada, diversamente da da seqüência dos volumes, uma intitulada

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