guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
116 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />
cendo irresistível xeque-mate. O narrador apaixonado per<strong>de</strong>u a contenda <strong>de</strong><br />
xadrez, mas isso lhe põe em mente a convicção sugerida <strong>de</strong> que não existe jogo<br />
perdido, dando-lhe ânimo para recomeçar o xadrez do amor em que a sua<br />
parceira «vale qualquer sacrifício», pois é a sua «<strong>de</strong>liciosa priminha».<br />
Ato contínuo abandona tudo e volta para a fazenda do tio Emílio.<br />
Ao chegar, é logo surpreendido por uma jogada in<strong>de</strong>fensável. Maria Irma<br />
trazia pronto seu imediato xeque-mate. Apresenta-lhe Armanda – aquela que<br />
era noiva <strong>de</strong> Ramiro. Reconstruo a movimentação das peças com as palavras<br />
mesmas do jocoso narrador:<br />
« – On<strong>de</strong> está Maria Irma? – perguntei.<br />
Estava no jardim, e tinha mesmo <strong>de</strong> estar no jardim.<br />
Mas não estava só.<br />
Ruborizou-se. Ofegou. E apresentou-me à outra.<br />
– Meu primo... Armanda...<br />
Armanda tinha uma expressão severa, e foi muito inóspito o seu olhar.<br />
Quase uma zanga.<br />
– Com cada um <strong>de</strong> vocês já falei muito do outro... – acrescentou Maria<br />
Irma.<br />
Hesitei. Armanda recuara um passo, e fingiu olhar o jasmineiro. Murmurei:<br />
– Então, Maria Irma, surpreendi você com a minha volta...<br />
– Fico alegre...<br />
– De verda<strong>de</strong>?<br />
– Não começa outra vez. Você não compreen<strong>de</strong>...<br />
Alguém riu. Era Armanda, a <strong>de</strong> maravilhosa bôca e olhos esplêndidos.<br />
– Vou ver, papai chamou... Me esperem... – explicou Maria Irma,<br />
abrindo vôo.<br />
– Prefiro caminhar. Quer? – perguntou-me Armanda.<br />
Quis. Andamos. Calados. Crescia em mim uma coisa <strong>de</strong>finitiva, assim<br />
com a impressão <strong>de</strong> já conhecê-la, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito, muito tempo. Nossas mãos se<br />
encontraram, <strong>de</strong> repente, e eu senti que ela também estremeceu.<br />
– Você está querendo tomar-me o pêlo?!<br />
– Que é isso, Armanda?<br />
– Nada. Vamos!<br />
Uma lava<strong>de</strong>ira cantava, lá na beira do rego: