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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Os Jagunços e o Rio do Chico no Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas _______________________________ Letícia Malard 37<br />

constitui em um ingrediente cenográfico e afetivo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto no<br />

romance. É na sua margem, e em seguida na sua travessia, que Riobaldo e<br />

Diadorim se conhecem, transformando a travessia literal do rio em outras<br />

travessias <strong>de</strong> caráter metafórico em todo o romance.<br />

Lembre-se que em 1952, quando estava adiantado o projeto <strong>de</strong> sua<br />

produção literária, Guimarães Rosa também realizou sua travessia literal por<br />

uma parte do sertão: ele percorreu cerca <strong>de</strong> 120 quilômetros no norte <strong>de</strong> Minas,<br />

acompanhando uma boiada que partiu da Fazenda da Sirga ou Selga – hoje<br />

localizada no município <strong>de</strong> Três Marias – à beira do São Francisco, chegando<br />

até Araçaí (não confundir com outra cida<strong>de</strong> mineira, Araçuaí) – próximo <strong>de</strong><br />

Cordisburgo. Essa fazenda é mencionada no romance. Durante a viagem, na<br />

companhia <strong>de</strong> vaqueiros, o autor fez muitas anotações em ca<strong>de</strong>rnetas, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> aproveitá-las em seus textos. Um <strong>de</strong>sses, do livro Corpo <strong>de</strong> Baile, é<br />

o conto “Uma estória <strong>de</strong> amor”, também conhecido como “A festa <strong>de</strong><br />

Manuelzão”, cujo protagonista é o vaqueiro Manuel Nárdi, que o escritor<br />

conhecera naquela viagem. Nela também conheceu o Zito, outro personagem.<br />

O médico Guimarães Rosa, recém-formado e muito jovem, clinicou em<br />

Itaguara, município <strong>de</strong> Itaúna, e em Barbacena. Nessas localida<strong>de</strong>s teria consultado<br />

arquivos sobre jaguncismo. São hipóteses, pois sua biografia oficial ainda<br />

está para ser feita.(6) No entanto, acreditamos que aquela viagem pela região<br />

são-franciscana do norte <strong>de</strong> Minas tenha sido indispensável para um mais<br />

efetivo contato com lendas sobre jagunços e com o São Francisco, que partiu a<br />

vida <strong>de</strong> Riobaldo em duas partes, como <strong>de</strong>clarou esse personagem. (7) O<br />

contato proporcionado pela viagem po<strong>de</strong> ter sido fundamental na confecção do<br />

romance, que foi publicado menos <strong>de</strong> quatro anos <strong>de</strong>pois.<br />

No Gran<strong>de</strong> sertão:veredas, o São Francisco, talvez por ser o maior rio<br />

dos Gerais e ser também muito querido tanto pelo autor quanto pelo narrador,<br />

vê, ouve e sente os inesquecíveis episódios da narrativa. Aparece cerca <strong>de</strong><br />

cinqüenta vezes, quer pelo nome oficial, quer pelos íntimos e carinhosos “Rio<br />

do Chico” ou simplesmente “o do Chico”. Estranho que não apareça também<br />

com outros nomes utilizados pelos ribeirinhos no mundo real – “São Chico” e<br />

“Velho Chico”. Ele serpenteia por todo o romance: da segunda página, quando<br />

surge pela primeira vez e é <strong>de</strong>nominado “Rio do Chico”, até à última página,<br />

<strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Diadorim, quando Riobaldo se casa com Otacília, indo<br />

morar e envelhecer em um incerto lugar à beira do rio querido.<br />

Assim o São Francisco – suas águas ora barrentas, ora claras, arrastandose<br />

em curvas pelo gran<strong>de</strong> sertão – acaba por impregnar a matéria narrada, ou<br />

melhor dizendo, a “matéria vertente”, usando a expressão rosiana, para

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