15.04.2013 Views

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

180 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

Ele é o primeiro assomo <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um povo adormentado que se<br />

revolta contra a iniqüida<strong>de</strong> do tributo lançado não consoante às necessida<strong>de</strong>s<br />

públicas mas <strong>de</strong> acordo com as ambições e opulências <strong>de</strong> uma Corte <strong>de</strong>vassa.<br />

Foi o brado da primeira reação contra a tirania, foi o primeiro que se<br />

sentindo oprimido teve a coragem inaudita <strong>de</strong> reagir e lutar.<br />

Estudando o caráter e a índole do garimpeiro convencemo-nos <strong>de</strong> que ele<br />

seria o herói <strong>de</strong> uma luta libertadora, se as condições especiais <strong>de</strong> meio e <strong>de</strong><br />

época permitissem a germinação <strong>de</strong>ssa idéia.<br />

É necessário dizer que o garimpeiro tinha como único crime o <strong>de</strong>sprezo<br />

das <strong>de</strong>terminações proibitivas do governo; na sua vida nôma<strong>de</strong> nem sempre<br />

rendosa muitas vezes a miséria e a fome po<strong>de</strong>riam guiá-lo aos atentados<br />

infames; ele jamais se confundiu com o salteador <strong>de</strong> estradas, com o invasor <strong>de</strong><br />

fazendas e povoações inermes.<br />

O viajante não sentia o mais leve temor nos lugares mais ermos,<br />

carregados <strong>de</strong> riqueza, encontrava um bando <strong>de</strong> mineradores furtivos.<br />

Eles não queriam o oiro que representava um esforço e um trabalho:<br />

reclamavam para si o que a natureza guardava para todos.<br />

Isolados e sempre perseguidos nas grimpas alcantiladas das serras do<br />

Tijuco, levando uma existência quase selvagem, o caráter <strong>de</strong>sses homens se<br />

acrisolou na virtu<strong>de</strong>, na lealda<strong>de</strong>, numa coragem indômita <strong>de</strong> leões, qualida<strong>de</strong>s<br />

que formam o traço característico da vida do garimpeiro.<br />

Nas tradições populares <strong>de</strong> Diamantina <strong>de</strong>stacam-se os vultos simpáticos<br />

<strong>de</strong> João da Costa, José Basílio e Isidoro, tendo o primeiro <strong>de</strong>sses sido consi<strong>de</strong>rado<br />

injustamente por Júlio Verne em o seu romance A jangada como um<br />

vulgar criminoso salteador e ladrão.<br />

Vamos citar a lenda <strong>de</strong> José Basílio, uma das mais cheias <strong>de</strong> episódios.<br />

José Basílio, natural da vizinha cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Luzia, garimpava nas<br />

lavras do Tijuco, quando foi preso durante a intendência <strong>de</strong> Luiz Beltrão.<br />

Conseguiu evadir-se subornando o carcereiro com meia oitava <strong>de</strong><br />

diamantes. Preso pela segunda vez em 1784, foi con<strong>de</strong>nado a trabalhar <strong>de</strong>z<br />

anos no serviço da extração no Jequitinhonha, ligado por correntes a um outro<br />

garimpeiro sentenciado — João Bago.<br />

Um dia mandaram do Tijuco um pequeno embrulho contendo algum<br />

oiro, umas limas e uma faca.<br />

No gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>salento que minava a alma forte do garimpeiro, sorriu-lhe<br />

um doce Luar <strong>de</strong> Esperança, e numa visão saudosa ele viu aparecer perto a vida<br />

aventureira que dantes levara, sob o pálio suavizante das estrelas e dormiu<br />

embalado por Sonhos brumosos <strong>de</strong> Liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> amor.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!