guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
108 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />
doctrina crociana.” E vai adiante: “Croce, para fundamentarlas, niega las partes<br />
<strong>de</strong> la oración y asevera que son una intromisión <strong>de</strong> la lógica, una insolencia.”<br />
(ob. Cit., p. 15). “La oración (arguye) es indivisible y las categorías gramaticales<br />
que la <strong>de</strong>sarman son abstracciones añadidas a la realidad.” (ob. Cit.,<br />
p. 15).<br />
Guimarães Rosa, parece-nos, revolucionou mais a sua tradição do que<br />
Borges o fez. E, a<strong>de</strong>mais, enfrentou uma Literatura que já produzira o seu mais<br />
elevado p<strong>rosa</strong>dor, Machado <strong>de</strong> Assis. Na passagem do século XIX para o<br />
século XX, o Brasil experimentou a calma revolução <strong>de</strong> um gênio inabordável<br />
pelas regalias da moda e do aplauso ligeiro. Estava à altura dos mo<strong>de</strong>los exemplares<br />
que nos eram impostos pela dominação européia.<br />
Prossigamos um pouco mais no paralelo da obra <strong>de</strong> Guimarães Rosa com<br />
a <strong>de</strong> J.L. Borges, na seqüência das tradições nacionais do Brasil e da Argentina.<br />
Perlustrando alguns trechos <strong>de</strong> Jorge Luis Borges, um escritor na periferia <strong>de</strong><br />
Beatriz Sarlo, na tradução <strong>de</strong> Samuel Titam Jr. (São Paulo: Iluminuras, 2008),<br />
sintamos a localização do escritor na cartografia do planeta literário. Diz a<br />
autora: “Se Balzac e Bau<strong>de</strong>laire, se Dickens e Jane Austen pareciam inseparáveis<br />
<strong>de</strong> alguma coisa que se chama ‘literatura francesa’ ou ‘literatura inglesa’,<br />
Borges, ao contrário, navega na corrente universalista da ‘literatura oci<strong>de</strong>ntal’.”<br />
A fim <strong>de</strong> reforçar o seu argumento, Beatriz Sarlo o contrabalança com o<br />
que se per<strong>de</strong>ria se se abandonasse o lado riopratense do genial escritor argentino:<br />
“Com efeito, Borges po<strong>de</strong> ser lido na Europa sem uma única alusão à<br />
região periférica em que escreveu toda sua obra. O que se obtém, assim, é um<br />
Borges inteligível nos termos da cultura oci<strong>de</strong>ntal e das versões do Oriente que<br />
esta cultura formulou, e o que se <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado é um Borges igualmente inteligível<br />
nos termos da cultura argentina e, em especial, da formação riopratense.”<br />
No cômputo geral, conclui a autora <strong>de</strong> Jorge Luis Borges, um escritor na<br />
periferia que “Po<strong>de</strong>-se ler Borges sem remetê-lo ao Martín Fierro, a Sarmiento<br />
ou a Lugones: lá estão os temas filosóficos; lá está a relação tensa, mas<br />
contínua com a literatura inglesa; lã estão o sistema <strong>de</strong> citações, a erudição<br />
extraída das minúcias das enciclopédias, o trabalho <strong>de</strong> escritor sobre o corpo da<br />
literatura européia e sobre as versões que esta construiu do ‘Oriente’...” Mas,<br />
todavia, não será o bastante, segundo a visão <strong>de</strong> Beatriz Sarlo. É que a<br />
dimensão riopratense brota inesperadamente para <strong>de</strong>salojar a literatura<br />
oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> sua centralida<strong>de</strong>. A obra <strong>de</strong> Borges, portanto, se torna conflitiva.<br />
Não será o caso <strong>de</strong> Guimarães Rosa. Mesmo que busquemos nela os<br />
caminhos da Filosofia Oci<strong>de</strong>ntal e os resíduos da cultura oriental conduzidos<br />
pelos povos intermediários, que os transplantaram à península ibérica e aos