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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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228 _______________________________________________ REVISTA DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS<br />

O artista Bracher, com seu método e estilo, começa acariciando a tela,<br />

seu espaço <strong>de</strong> trabalho, emociona-se, acelera a respiração, se entrega ao<br />

pulsional, empunha o crayon e retrata sua “impressão primeira” do objeto,<br />

ataca com trincha e espátula e dá-se o mistério do talento. Vai-se revelando<br />

uma forma, em tempo curto, no jogo <strong>de</strong> movimentos, com cores e luzes, originados<br />

<strong>de</strong> pinceladas fortes, enérgicas, com relevos e extensões. O gesto é<br />

brusco, não estudado, ou medido e refletido, a busca da tinta é quase aleatória<br />

nos sucessivos e rápidos golpes com que ataca a tela, mas tudo vai formando<br />

imagens, com as visões e <strong>de</strong>formações que, afinal, vão compor a obra. Moacir<br />

Laterza, que <strong>de</strong>bruçou-se na interpretação <strong>de</strong> Bracher, diz que “caucionada por uma<br />

singular vivência estética, a práxis artística <strong>de</strong> Bracher manifesta essa estranha<br />

dialética interna da verda<strong>de</strong> do ser”. E mais: “É esta mediação da intimida<strong>de</strong><br />

pessoal que <strong>de</strong>termina a qualida<strong>de</strong> da sua obra. Procurando <strong>de</strong>svendar o enigma<br />

do mundo, Bracher resgata <strong>de</strong> certo modo sua realida<strong>de</strong> circundante e, a um só<br />

tempo, encontra a pista para a <strong>de</strong>cifração do enigma do seu próprio eu”.<br />

Para Bracher, falando do seu processo, “pintar é um processo anímico, é<br />

uma <strong>de</strong>tonação”. E mais: “É preciso misturar poesia e alucinação, com a<br />

expressão, possível, da força criativa, do talento, que já nasce com as limitações<br />

da personalida<strong>de</strong>. O quanto esta limitação vai prepon<strong>de</strong>rar é que dará a técnica<br />

e o estilo. O que nos leva a indagar até que ponto a transgressão absoluta não é<br />

construtiva”. Bracher se diz “expressionista essencialmente, composto por uma<br />

estética tensa, dramática, sempre uma transferência das interiorida<strong>de</strong>s. Mas o<br />

motivo, o élan, o impulso profundo é sempre <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> algum envolvimento<br />

psicológico, visto como estímulo a uma reação. A profusão <strong>de</strong> cores e<br />

formas é uma convulsão, uma eclosão imprevisível, condicionada pela emoção<br />

<strong>de</strong> cada instante.”<br />

“Não é cerebral nem intelectual. Fica no intuitivo. É como uma reação<br />

diante da vida. O fluxo <strong>de</strong> paixão é que vai produzindo gestos e imagens, que<br />

vão surgindo na tela. Não se pensa nem na cor, que vai compondo o conjunto,<br />

ajudando na vida e na forma, escolhida sob o impacto da emoção”, completa<br />

Bracher sobre o seu processo criativo. Esta fala nos remete ao pensamento <strong>de</strong><br />

que, em Bracher, o instinto é o seu talento. E também aí resi<strong>de</strong> o seu enigma. A<br />

força e o sentido do gesto, que se realiza na articulação entre o músculo e o<br />

movimento, impulsionado emocionalmente, instintivamente dirigido, compõem<br />

uma misteriosa concatenação criativa.<br />

“É da essência da linguagem verbal ser simbólica. A essência da linguagem<br />

visual não é a mesma; uma pintura não dispensa conceitos, mas também<br />

não sobrevive <strong>de</strong>les. Fala direto à percepção, que é biologicamente uma relação

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