guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

MINAS LIBERTÁRIA
Patrus Ananias*
Em evento recente, uma pessoa amiga me disse, em tom de lamento, que
o último oposicionista em Minas havia morrido enforcado, numa referência a
Tiradentes, herói da nossa história. Discordo. A afirmação não procede porque
a política mineira não termina na repressão do movimento dos inconfidentes;
além da permanência e do legado de Tiradentes, quem viveu foi ele e não aqueles
que o mataram. A história de Minas foi sempre uma história comprometida
com os valores da liberdade e da justiça.
Tivemos no Império uma figura notável, Bernardo Pereira de Vasconcelos
que, segundo Raimundo Faoro, José Murilo de Carvalho e outros grandes
historiadores brasileiros, foi o fundador do parlamento no Brasil. Quando D.
Pedro I deu posse, em 1826, aos deputados eleitos em 1824, tinha a convicção
de que seria um parlamento sob o seu controle, como foi a própria constituinte
dissolvida por ele mesmo em 1823. O poder legislativo no Brasil se afirmou
graças à ação extraordinária de Bernardo Pereira de Vasconcelos, que não só
defendeu os valores do parlamento, em estado embrionário no Brasil, mas
desenvolveu procedimentos, demonstrando vasto conhecimento de Direito
Constitucional, e confrontou os posicionamentos arbitrários e autoritários de D.
Pedro I. Atitudes assim que levaram ao famoso 7 de abril de 1831, quando o
imperador foi forçado a abdicar porque já havia um profundo distanciamento
com a nação brasileira. Como líder desse processo estava Bernardo Pereira de
Vasconcelos. Foi ele que um dia, recebendo o imperador, lançou o princípio:
“Viva o imperador enquanto constitucional”.
Em 1842, outra resistência parte de Minas contra excessos autoritários e
centralizadores do Império: é a Revolução Liberal Mineira, liderada por outra
figura inestimável, como político e empreendedor, que foi Teófilo Otoni.
* Acadêmico, Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ocupa a cadeira nº 39 da Academia
Mineira de Letras.