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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Vitorino Nemésio, poeta em Belo Horizonte ___________________________________________ Heitor Martins 165<br />

pessoas – há uma coleção <strong>de</strong> cristais <strong>de</strong> quartzo mais rica que a <strong>de</strong> Nova York e<br />

uma galeria <strong>de</strong> retratos <strong>de</strong> velhos professores em que parece ler-se a resistência<br />

da terra ao canto <strong>de</strong> sereia dos lados <strong>de</strong> Belo Horizonte, e logo a resignação<br />

perfeita das vidas que bem se preencheram.”<br />

Num artigo em que analisa a poesia como modo <strong>de</strong> ser para Vitorino<br />

Nemésio, Duarte Faria chama atenção para a tradicionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua obra, na<br />

qual “não radicaliza a originalida<strong>de</strong>, não cultiva a ruptura como porta-voz <strong>de</strong><br />

uma vanguarda, não afronta a História na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> acto poético e acto<br />

<strong>de</strong> contestação do passado. (...) nela a primazia é a tradicionalida<strong>de</strong>, isto é, o<br />

po<strong>de</strong>r transmissor <strong>de</strong> um antes para um <strong>de</strong>pois sem que, com isso, se transfira o<br />

bloco <strong>de</strong> valores.”<br />

A parte “brasileira” da obra do poeta açoriano é uma intensa e profunda<br />

perquirição sobre este tema da tradição. Sua visão parece-nos ser a <strong>de</strong> uma<br />

constante interação entre o passado, fonte do futuro, e o tempo presente que se<br />

ausculta, para usar a palavra <strong>de</strong> Duarte Faria. Estes três tempos se interrogam<br />

permanentemente, numa divisão espacial, correspon<strong>de</strong>nte à viagem brasileira<br />

do poeta. Nesta viagem, em que se encontra com aquele que é o Outro mas que,<br />

membro da mesma família, compartilha o sangue e a História, Vitorino<br />

Nemésio i<strong>de</strong>ntifica também os três tempos <strong>de</strong> sua tradição pessoal e nacional. À<br />

parte presente correspon<strong>de</strong> a costa; mas on<strong>de</strong> se chocam passado e futuro é no<br />

interior, neste passado que é um “Poente americano” i<strong>de</strong>ntificado em Ouro<br />

Preto, e no futuro visto como “acampamento”, “imaginação”, “irrealida<strong>de</strong>”,<br />

“pretexto” – palavras que usa para <strong>de</strong>screver Belo Horizonte e cujas fronteiras<br />

semânticas implicam em transitorieda<strong>de</strong> e virtualida<strong>de</strong>.<br />

Num outro texto da mesma época, resumindo sua peregrinação <strong>de</strong> cinco<br />

meses pelo Brasil, o poeta consi<strong>de</strong>ra Lisboa como seu ponto <strong>de</strong> partida e Belo<br />

Horizonte como o extremo espacial atingido, a primeira construída pela lenda<br />

ulisséia e a outra “gizada a cor<strong>de</strong>l e compasso há pouco mais <strong>de</strong> meio século”.<br />

Ouro Preto e as velhas cida<strong>de</strong>s coloniais mineiras são o passado que dá<br />

base ao futuro; Belo Horizonte – e <strong>de</strong>pois Brasília – são os “rubis imaginários”<br />

do porvir.<br />

Em nenhum momento, o poeta parece ter melhor expresso este conjunto<br />

<strong>de</strong> lucubrações do que no poema “No Cemitério <strong>de</strong> Santa Efigênia <strong>de</strong> Ouro<br />

Preto”, inicialmente publicado como introdução à secção intitulada “O Segredo<br />

<strong>de</strong> Ouro Preto” do livro do mesmo nome, claramente separado da secção do<br />

“Romanceiro da Baía”, ao qual <strong>de</strong>pois vai ser incorporado. O poema – que é o<br />

único escrito sobre Minas Gerais – é uma longa meditação sobre as relações<br />

entre Belo Horizonte e Ouro Preto, consi<strong>de</strong>radas como cida<strong>de</strong>s-símbolo.

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