guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

Livro do trimestre
SÍLVIA RUBIÃO: A CONTIDA
LINGUAGEM DA EMOÇÃO
Fábio Lucas*
A arte da poesia será talvez o equilíbrio harmonioso da inteligência
(razão cerebral) com as emoções do coração.
Para aqueles que acreditam fervorosamente na arte-construção, dependente
da cultura-repertório somada ao rigor crítico, pouco importa que a
emoção transborde do artefato literário. Caso típico em que a versificação,
despojada dos versos intencionalmente metrificados e dos expedientes retóricos
de cunho mimético, ou referencial, ou meramente de valores semânticos motivados,
se aproxima e até se confunde com a prosa. Teríamos poesia que se
produz sob encomenda, antagônica da inspiração, mas sujeita a uma íntima
gramática normativa.
De outro modo, alinham-se os poetas que apelam antes de tudo para a
resposta emocional, e praticam os recursos mais imediatos da sedução verbal,
na busca do aplauso instantâneo. Estes sobrelevitam à superfície, incapazes de
conduzir o leitor ao mergulho nas profundezas da expressão. Conduzem-se
como poetas movidos pelo arrebatamento.
Quando qualquer um desses percorre a temática mais consagrada da série
lírica, não vai além do canto confessional de situações de abandono, solidão e
de descrédito das pulsões vitais. Geralmente explora o trivial da experiência
humana, numa textura redundante, desgastada. A esta altura, o verbo se mostra
enfraquecido, e o texto ponteado de lugares-comuns sobre a condição existencial.
* Professor, ensaísta, autor de: Do Barroco ao Moderno, Mineiranças, O Poeta e a Mídia? Carlos
Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, Lições de Literatura Nordestina, Ética e Estética
de Érico Veríssimo. Da Academia Mineira de Letras (cadeira 22).