15.04.2013 Views

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

OS JAGUNÇOS E O RIO DO CHICO NO<br />

GRANDE SERTÃO: VEREDAS*<br />

Letícia Malard**<br />

Não é novida<strong>de</strong> para os leitores e estudiosos do Gran<strong>de</strong> Sertão:Veredas<br />

que nesse romance se <strong>de</strong>senha toda uma geografia aquática: além <strong>de</strong> veredas<br />

em sentido estrito, mapeiam-se rios, riachos, ribeirões, córregos, lagoas e<br />

cachoeiras. Muitos existem na realida<strong>de</strong> e com o mesmo nome. Outros tantos<br />

também existem, mas com nome ligeiramente modificado. E vários outros<br />

foram criados por Guimarães Rosa, apesar <strong>de</strong> alguns leitores da obra que<br />

conhecem o real da região afirmarem que o autor não inventou nenhum<br />

topônimo. Esses aci<strong>de</strong>ntes geográficos relativos à água não servem apenas para<br />

compor a paisagem sertaneja. Servem principalmente para articular ou<br />

relacionar entre si os episódios da caótica narrativa, numa perfeita simbiose do<br />

homem com o sertão, da terra com a água.<br />

O título do romance já assinala a importância <strong>de</strong>sse universo aquático. O<br />

substantivo comum “vereda (s)” aparece 77 vezes no livro, quase todas fazendo<br />

par com outro substantivo comum – “buriti”, um tipo <strong>de</strong> palmeira, árvore<br />

querida por Guimarães Rosa. Para o buriti se <strong>de</strong>senvolver, é necessária uma<br />

gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água. Isso significa que o escritor faz questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar<br />

uma característica inconfundível da paisagem do nosso sertão – que não é o<br />

sertão seco do Nor<strong>de</strong>ste – mas um sertão molhado, irrigado pela própria<br />

natureza. Sobrepondo os buritis às veredas, o escritor agrega ao sertão<br />

“su<strong>de</strong>stino” a plasticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma aquarela carregada no ver<strong>de</strong> com pinceladas<br />

em azul, mesclando vegetação e água.<br />

* Palestra proferida na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Mineira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, em 19 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2008, <strong>de</strong>ntro da Semana Cultural<br />

Guimarães Rosa, comemorativa do seu centenário <strong>de</strong> nascimento.<br />

**Professora Emérita <strong>de</strong> Literatura Brasileira da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Seus últimos<br />

livros são Um Amor Literário (romance) e Literatura e Dissidência Política (ensaios).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!