guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

MIGUILIM: UMA OUTRA EPOPÉIA
DE JOÃO GUIMARÃES ROSA*
Alaor Barbosa**
Ter sido convocado pela Academia Mineira de Letras para falar sobre
João Guimarães Rosa em uma ocasião tão grata – a comemoração do
centenário do seu nascimento – constitui-se em um dos mais importantes
acontecimentos da minha já longa trajetória de perseverante lidador – o sábio
Carlos Drummond de Andrade diria lutador – com palavras. É comovido que
agradeço à Academia por me haver proporcionado a oportunidade desta
honrosíssima participação. Aqui compareço com aquele sentimento que me
vem e com aquela atitude que adoto toda vez que adentro e piso terras de Minas
ou com o mundo de Minas me ponho em algum tipo de relação direta:
sentimento de profunda reverência e atitude de vigilante atenção. Reverência,
primeiro porque Minas representa, para mim, a densa e profunda região da
latência das minhas lembranças indiretas, certamente plantadas no meu
inconsciente por meus ancestrais mineiros: do lado do meu pai, minhas raízes
afundam até ao trisavô do meu pai, um português Barbosa transplantado para a
zona dos contrafortes da Serra da Canastra, habitante nas terras do Espírito-
Santo-da-Forquilha, ao lado da atual represa de Peixotos, no rio Grande, perto
da divisa com São Paulo. Por esse fortíssimo motivo, em chão de Minas sinto a
presença nas camadas mais profundas do meu ser de obscuras forças e
indistintas lembranças querendo aflorar à tona da consciência: algo assim como
um rever mais do que ver, um tornar a sentir o já sentido, um reviver o vivido.
Reverência também porque foi em Minas que surgiram e principalmente
atuaram algumas das principais personalidades que muito e permanentemente
* Palestra proferida na Academia Mineira de Letras, na tarde-noite de 21 de agosto de 2008, quinta-feira,
dentro da Semana Cultural Guimarães Rosa, comemorativa do seu centenário de nascimento.
**Escritor, advogado. Reside em Brasília.