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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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CORPO DE BAILE:<br />

DE MIGUILIM A MIGUEL*<br />

Carmen Schnei<strong>de</strong>r Guimarães**<br />

Situar Guimarães Rosa no cenário literário do país e fora <strong>de</strong>le, ainda<br />

hoje, não é tarefa simples. Des<strong>de</strong> 1946, quando surgiu Sagarana, o escritor<br />

mineiro tornou-se alvo <strong>de</strong> interesse específico e da crítica. Fora um abalo<br />

possante nas letras pátrias, marcando uma terceira investida contra o discurso<br />

tradicional da ficção brasileira, a partir da Semana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna em São<br />

Paulo. A obra do escritor mineiro perfila-se <strong>de</strong>ntro da “geração do instrumentalismo”,<br />

por questões diversas, entre outras, a preocupação da estética do texto<br />

e a exploração das potencialida<strong>de</strong>s do discurso. Quis ele sempre imprimir maior<br />

ênfase sobre o distenso, já usada em romances nor<strong>de</strong>stinos, em cujos textos, por<br />

vezes, é encontrado um veio <strong>de</strong>scritivo épico, <strong>de</strong>nunciador <strong>de</strong> situações trazidas<br />

por a<strong>de</strong>ptos do Real-Naturalismo. Curioso é que Rosa se utiliza do realismo<br />

fantástico transfigurado em temas da vida real, como tônica fundamental <strong>de</strong><br />

várias <strong>de</strong> suas criações. Às vezes, imaginamos que Guimarães Rosa escreva<br />

uma estória para seu <strong>de</strong>leite, usando a expressão sertaneja como um veículo <strong>de</strong><br />

criação literária e não para exprimir situações e personagens. Sua palavra fazse,<br />

por vezes, maior e mais atuante do que o argumento do reconto.<br />

Tudo que se apresenta novo causa algum tipo <strong>de</strong> surpresa, às vezes se<br />

<strong>de</strong>finindo em concordância, outras se levantando em leve ou ardoroso protesto.<br />

Assim aconteceu com a forte expressão inovadora da escrita rosiana, quando os<br />

leitores e críticos se <strong>de</strong>pararam com a fala mesclada <strong>de</strong> regionalismos e<br />

arcaísmos no talentoso dizer do cordisburguês. O homem queria mesmo<br />

renovar, sacudir o marasmo das frases prontas, dos lugares-comuns e das<br />

analogias transoceânicas <strong>de</strong> berço. Estava ali um autêntico artesão, e já se disse,<br />

* Palestra proferida na <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> <strong>Mineira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, em 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2008,<strong>de</strong>ntro da Semana Cultural<br />

Guimarães Rosa, comemorativa do seu centenário <strong>de</strong> nascimento.<br />

**Escritora, Presi<strong>de</strong>nte Emérita da <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> Feminina <strong>Mineira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>.

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