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guimarães rosa - Academia Mineira de Letras

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Tijuco – lendas e tradições ____________________________________________________ Edgar Matta Machado 189<br />

Há entretanto quem afirme que <strong>de</strong>ssa vez não foi a religiosa vítima <strong>de</strong><br />

uma mera visão subjetiva <strong>de</strong> seu espírito doente. Mais tar<strong>de</strong>, quando se<br />

procedia a transformação do antigo Recolhimento na atual Igreja da Luz<br />

(conserto lamentável que perturbou o velho estilo imponente do edifício) ficou<br />

o trabalho em meio, as pare<strong>de</strong>s abertas aos vendavais e chuvas.<br />

Um operário, <strong>de</strong> nome João, que nela trabalhava, contou que, indo fazer<br />

uma oração, ouviu os lábios <strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> São Francisco murmurarem suplicantes:<br />

“João... ao menos barro!...” E então o povo concorreu com esmolas para<br />

que as pare<strong>de</strong>s se levantassem, não somente <strong>de</strong> barro, como pedia o mo<strong>de</strong>sto<br />

Santo, mas <strong>de</strong> cal e areia.<br />

Um dos tipos mais característicos do Tijuco colonial é o célebre nababo<br />

<strong>de</strong>sembargador João Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira, <strong>de</strong> cuja vida aci<strong>de</strong>ntada e cheia <strong>de</strong><br />

episódios rapidamente nos ocuparemos.<br />

Do modo e da facilida<strong>de</strong> com que adquiriu a sua colossal fortuna que<br />

parecia, como se <strong>de</strong> longa data já lhe fosse <strong>de</strong>stinada, entrava-lhe pelas portas<br />

a<strong>de</strong>ntro como que dirigida por um po<strong>de</strong>r oculto, um simples fato, que passamos<br />

a narrar, nos dará uma idéia precisa.<br />

Encetando a exploração <strong>de</strong> uma das suas jazidas, quando apenas começava<br />

o <strong>de</strong>smonte, removendo a vegetação rasteira que cobria a superfície da<br />

terra, os diamantes estrelavam <strong>de</strong> tal maneira que o ambicioso <strong>de</strong>sembargador,<br />

aterrado, lançou-se <strong>de</strong> joelhos exclamando: “– Senhor, se tanta riqueza tem <strong>de</strong><br />

ser a causa da minha perdição, fazei que todos esses diamantes se transformem<br />

em carvões.”<br />

De todos contratadores foi o que maiores benefícios retirou, acumulando<br />

a maior fortuna do Tijuco.<br />

Orgulhoso, recebendo a vassalagem que prestavam à sua fortuna, o<br />

<strong>de</strong>sembargador era autoritário, antipático ao povo em geral, e só se curvava<br />

humil<strong>de</strong> ante as caprichosas vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua amante, a célebre Xica da Silva,<br />

mulher que não tinha atrativos que justificassem tal paixão.<br />

Na encosta da Serra, lugar hoje <strong>de</strong>nominado Palha, erguia-se o Castelo<br />

do Contratador, vasto edifício <strong>de</strong> arquitetura medieval, posteriormente <strong>de</strong>molido,<br />

ato <strong>de</strong> vandalismo que, diz o dr. Felício, fez <strong>de</strong>saparecer o edifício mais<br />

importante da época feudal do Tijuco.<br />

Havia nesse solar fidalgo uma vasta Capela riquissimamente adornada e<br />

também um teatro on<strong>de</strong> se representavam peças ao sabor da época, nos dias <strong>de</strong><br />

festivida<strong>de</strong>.<br />

O parque era <strong>de</strong> um trabalho artístico digno <strong>de</strong> ser admirado, povoado <strong>de</strong><br />

flores e árvores exóticas, cheio <strong>de</strong> córregos <strong>de</strong> águas cristalinas correndo sobre

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