guimarães rosa - Academia Mineira de Letras
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Miguilim: uma outra epopéia <strong>de</strong> João Guimarães Rosa ___________________________________ Alaor Barbosa 79<br />
“Gerais” e a outra “Parábase” – ele classifica <strong>de</strong> “Os romances” as novelas<br />
“Campo geral”, “A estória <strong>de</strong> Lélio e Lina”, “Dão-Lalalão” e “Buriti”, e <strong>de</strong><br />
contos as novelas “Uma estória <strong>de</strong> amor”, “O Recado do Morro”, “Cara <strong>de</strong><br />
Bronze”. Vamos repetir, recapitulando: a estória <strong>de</strong> Miguilim em “Campo<br />
geral” é classificada por João Guimarães Rosa, sucessivamente, <strong>de</strong> novela, <strong>de</strong><br />
poema, <strong>de</strong> romance.<br />
Certa vez, talvez no ano <strong>de</strong> 1961, conversando com João Guimarães<br />
Rosa no seu gabinete <strong>de</strong> trabalho, no Palácio do Itamaraty, no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
cometi uma ousadia, bem própria do rapazinho <strong>de</strong> 21 anos que eu era: a <strong>de</strong><br />
afirmar a ele que a sua mais perfeita criação literária era Miguilim. Reparei bem<br />
na atenção seriíssima que Guimarães Rosa prestou à minha afirmação. Ele me<br />
indagou logo se eu pensava mesmo aquilo: “Você acha mesmo, Alaor?” Eu<br />
confirmei que sim. Ele me pareceu – no seu profundo silêncio meditativo –<br />
intensamente sensibilizado por minha afirmativa. Hoje eu não faria afirmação<br />
assim tão peremptória. Digo, sim, que Miguilim é uma das melhores e mais<br />
comovedoras criações literárias <strong>de</strong> João Guimarães Rosa.<br />
A estória <strong>de</strong> Miguilim menino passa no lugar <strong>de</strong>nominado Mutum<br />
(vocábulo que Guimarães Rosa acentua com acento agudo), nos Gerais <strong>de</strong><br />
Minas. Em outra novela, “A estória <strong>de</strong> Lélio e Lina”, informa-se que o lugar<br />
mais perto <strong>de</strong> Mutum é Barra-da-Vaca – atualmente Arinos: no Noroeste <strong>de</strong><br />
Minas, não muito longe (cerca <strong>de</strong> cem quilômetros) do atual Parque Nacional<br />
Gran<strong>de</strong> Sertão Veredas. Barra-da-Vaca foi um porto no rio Urucúia. Fica a<br />
poucos quilômetros abaixo do porto <strong>de</strong> Morrinhos, que também é mencionado<br />
em Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas. O Urucuia, <strong>de</strong>ve-se registrar, é o rio mais falado<br />
<strong>de</strong>ntro do universo das estórias <strong>de</strong> Guimarães Rosa.<br />
Falo <strong>de</strong> Miguilim menino porque existe também, em Corpo <strong>de</strong> Baile,<br />
uma outra novela, “Buriti”, em que reaparece o personagem Miguilim já adulto<br />
e vivendo, sem o saber, um trecho que po<strong>de</strong> ser (ou não) terrível transe em sua<br />
vida. Formado em veterinária, mora em Belo Horizonte e exerce a profissão no<br />
sertão <strong>de</strong> Minas. Ele volta à fazenda Buriti Bom, <strong>de</strong> Iô Liodoro, a fim <strong>de</strong> se<br />
casar com uma filha <strong>de</strong>le, Maria da Glória. Ele a conhecera um ano e pouco<br />
antes ali no Buriti Bom. Prometera voltar. A novela começa contando a volta<br />
<strong>de</strong>le: inocentemente ignorante <strong>de</strong> marcantes fatos acontecidos <strong>de</strong>pois que ele<br />
voltara para Belo Horizonte.<br />
Po<strong>de</strong>rá alguém contradizer-me argumentando: “Campo geral” é romance,<br />
é novela, é poema, é drama e é tragédia, epopéia é que não. Este é um argumento<br />
forte, pon<strong>de</strong>rável, do ponto <strong>de</strong> vista da estrutura e aci<strong>de</strong>ntes dos gêneros<br />
literários. Argumento, <strong>de</strong> resto, oponível também à classificação <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong>